Friday, November 16, 2007

Os emigrantes do tempo

Existem tantas surpresas por aí que por vezes nos deixam boquiabertos. Mas como surpresa é mesmo surpresa pelo menos dá para vivê-las e, em seguida, comentar sobre elas com a primeira pessoa que nos aparecer pela frente.
Olhando apenas para o factor idade, fica por vezes difícil de julgar as pessoas de modo a determinar se é criança, adolescente, jovem, adulto, ou idoso, e isso lembra-nos algumas das surpresas que um dia tivemos. É claro que a sociedade já tipificou os atributos de uma criança, idoso, adolescente, etc. Por isso mesmo ficamos surpreendidos quando os atributos de um são encontrados no outro podendo, em alguns casos, serem surpresas positivas ou negativas.
Quando uma criança organiza o seu discurso de forma coerente e lógica, a surpresa é maior porque achamos que ela atingiu a maturidade precocemente. O inverso é também verdadeiro no sentido de que os adultos surpreendem-nos, mas desta vez pela negativa quando agem de forma imatura. Pois então é à partir deste ponto que podemos desdobrar-nos sobre os atributos de criança, idoso, jovem e adulto.
Deixando de lado a idade biológica podemos começar a olhar uns para os outros e conviver com a idade sociológica de cada um. Antes de entrar em detalhes sobre este ponto queria abrir um parênteses para convidar lhe a olhar para este argumento em similitude ao do sexo e género. As abordagens sobre o género referem que os atributos sobre o sexo feminino e masculino encontram-se no campo da biologia ao contrário do género masculino e feminino que se enquadram nas ciências sociais.
Da mesma forma que a sociedade criou valores concebidos para as mulheres e homens pode, do mesmo modo, inverter os papéis sociais de cada um, ou mesmo permitir a permutação dos mesmos entre os géneros, daí que a igualdade de género é possível.
No atinente a idade gostaria de chamar atenção para um pequeno detalhe. A sociedade também convencionou uma série de atributos, valores e modus vivendi para cada faixa etária. Mas a manifestação destes valores não é linear e nem directamente proporcional à faixa etária ou idade biológica. É daí que podemos afirmar que ser jovem ou idoso tem a ver com os hábitos, valores, em suma com o estilo de vida de cada um.
Socialmente construimos um leque de expectativas em relação à conduta dos indivíduos de várias idades o que nos ajuda a ajuizar se o indivíduo se enquadra na categoria de jovem ou idoso, criança ou adulto. Por exemplo, tomando em consideração a faixa etária correspondente aos jovens e adolescentes diríamos que eles constituem um grupo fechado sobre os seus valores, que muitas vezes opõem-se em relação aos outros grupos criando, desta forma, uma espécie de exclusão social.
No nosso país, os adolescentes construíram uma categoria social baptizada pelo nome Senhor(a). Este topónimo significa entre outras palavras ser alienígena ou estranho relativamente aos nossos valores. Ser Senhor significa, antes de mais nada, alguém muito mais velho que nós; significa, também, não compreender a nossa linguagem (o calão que usamos) e o estilo de vida, não gostar da música que escutamos, não se simpatizar com a nossa indumentária, etc. Ser identificado por este topónimo significa, de alguma forma, fazer parte daqueles que escutam kwassa-kwassa, usam “calças de pano”, escutam Chidiminguana, consideram de marginais aos homens que andam de tranças ou que pintam o cabelo de loiro, e por aí em diante. Isso sim, significa ser Senhor na óptica dos adolescentes. Assim sendo é comum que se desenvolva uma série de comportamentos padronizados para o relacionamento com todas as categorias etárias diferentes da que pertencemos. É na sequência disso que entre os jovens e adolescentes a saudação gira em torno de um “comé mano?” e destes para os Senhores a saudação muda de tonalidade refreando-se para um “boa tarde”.
Os temas de conversa também constituem marcos identitários entre as faixas etárias; isso faz com que se dê distância e excluam-se os que não fazem parte do nosso grupo quer dos mais velhos para os mais novos e vice-versa. Mas como à princípio debrucei-me sobre o factor surpresa, importa repisar que elas aparecem quando alguém de um determinado grupo aparece com valores similares aos do outro, por exemplo. Nesse caso o mais provável é que despolete uma frustração de expectativas que pode ser positiva ou negativa mediante os valores do indivíduo frustrado. Em jeito de exemplo, se um indivíduo de 23 anos depara-se com um outro de 52 anos vestido a hippie, mascando uma pastilha elástica, escutando Zukuta nuns auscultadores do Nokia N-95, poderá muito provavelmente ficar positivamente surprendido.
Um dos factores que muitas vezes envelhece as pessoas é a falta daquilo que, em linguagem informática, chama-se de upgrade ou update. Vivemos presos no tempo como se de um relógio parado nos tratassemos. Ser jovem ou não, acaba sendo um construto social que se resume no modo de vida, nos hábitos e costumes e, no sentido mais restrito, emprestaria o conceito de habitus largamente usado por Bordieu.
Todos bebem a cerveja, mas a diferença entre os jovens e os não jovens começa a manifestar-se pela maneira como cada um dos dois a consome. Os locais onde se consome, a música que se escuta no momento, a maneira como se desfruta a euforia adquirida pelo alcool, etc. Tudo isso marca diferenças entre um e outro grupo.
Os antropólogos já nos disseram que a cultura é dinâmica e não estável. Os updates ou simplesmente a actualização dos valores socialmente construidos farão do indivíduo um autêntico emigrante do tempo, mantendo-se sempre actual. Dentre as várias fórmulas existentes, esta é uma delas para fazer face ao conflito de gerações, pois existe uma tendência quase que natural em considerar melhor tudo o que tem a ver com o nosso tempo. E o nosso tempo é sempre aquele em que fomos adolescentes e jovens, como se depois desta faixa etária não pertencêssemos mais ao tempo ou não mais o tivéssemos. Isso para dizer que pode-se ser eternamente jovem se considerarmos que esta categoria etária como qualquer outra, são socialmente construidas. Isso não significa, necessáriamente, a perda de valores ético-morais aceites pelo meio em que nos encontramos, antes pelo contrário. Senão diríamos que ser jovem é sinónimo de perversão e delinquência, o que não corresponde à verdade.
Da mesma forma como existem indivíduos mais velhos que se confundem com os mais novos pelo seu estilo de vida, há também casos de mais novos que adoptam valores dos mais velhos e frustram, por isso, as expectativas da sociedade em certos casos de forma positiva e em outros de forma negativa. Talvez o ideal para a sociedade seria frustrar positivamente as suas expectativas através de alterações ocasionais dos papéis sociais e, no sentido mais lato, do modus vivendi entre as demais faixas etárias. Quer para os mais velhos quer para os mais novos estariam a fazer de si autênticos emigrantes do tempo cruzando o passado, o presente e o futuro através dos valores sociais, usos e costumes partilhados entre si. Deste modo alguns costumes do passado seriam perpetuados e os outros renovados construindo assim uma cultura homogénia entre os demais grupos etários.
Não se pretende, com isto, sugerir a homogeneidade de valores na nossa sociedade, antes sim reflectir sobre questões como conflitos de geração, o desejo de ser eternamente jovem (actualmente visível entre os clientes dos cirurgiões plásticos), entre outras, que são basicamente determinadas pela não aderência à categoria dos emigrantes do tempo. Ademais, podemos vincar que a própria heterogeneidade constitui um elemento preponderante para a definição identitária dos grupos sociais, mas cabe a cada um definir através das suas pretensões individuais o seu próprio estilo de vida. A heterogenidade é pertinente para o enriquecimento da sociedade, trazendo para si, várias identidades, quer de conservadores, ortodoxos, clássicos e até mesmo dos emigrantes do tempo.

Monday, October 29, 2007

Revolução verde


A moda é algo que todos nós apreciamos no momento. Quando ela está em cima
dá gosto apreciar aos que dela se desfrutam, por mais que nós não consigamos
lá estar. Mas há modas que chegam a irritar principalmente pela forma como é
"curtida". Estou a falar dos discursos políticos que raramente são
implementados.


Já dançamos a música do combate ao deixa andar, ao burrocratismo, à
corrupção, à pobreza absoluta etc. Já me esquecia da jatrofa. Há
camponeses que deixaram de cultivar o feijão, o milho, a mandioca, para
investirem na jatrofa que depois ninguém comprou e acabaram passando a
fome. S ão modas que o discurso político usou e descartou.


Falando do combate ao deixa andar; r ebentou o paiol de Machazine e até hoje
não conhecemos ninguém que tenha sido responsabilizado por isso dado que o
relatório da peritagem demostrou claramente ter havido negligência por
detrás do sinistro; por outro lado, no vergonhoso incêndio do ministério da
agricultura não conhecemos ninguém que tenha sido responsabilizado. Isto vem
mostrar que o discurso e a prática são duas coisas completamente distintas.


Há pouco tempo a STV passou uma notícia que dava conta de uma senhora que a
revelia do seu esposo foi à conservatória alterar o regime do casamento em
comunhão de bens para a separação de bens de modo a se apropriar do imóvel
registado em seu nome e que era pago a letra pelo respectivo esposo. Isso
foi feito pouco tempo depois dela intentar ao tribunal uma acção de divórcio
litigioso. Neste caso o divórcio não me interessa, mas sim a alteração do
regime do casamento que me parece ter sido feita de forma fraudulenta.


Será legal a atitude da fulana? Caso a resposta seja positiva, penso que não devia ser feita na ausência do cônjuge. Ao acontecer
desta forma, vem trasparecer a corrupção no seio do aparelho da justiça.
Pegando neste último ponto, vou levantar mais uma questão. Depois da notícia
ter passado, quem de direito procurou responsabilizar aos corruptos
envolvidos na pouca vergonha que manchou mais uma vez o Ministério da
Justiça? Pelos vistos a notícia foi para o ar e todos concentraram-se apenas
na questão do divórcio litigioso e poucos se interessaram pela fraude. Não
quero pensar que a imprensa tenha sido manipulada para não dar segimento à
mudança problemática do regime do casamento. Mas tenho a lembrar que estamos
a falar de casos que acontecem num governo que se disse comprometido em
combater a corrupção, o deixa andar, a pobreza absoluta, o burrocratismo e
muitas outras desgraças de Moçambique.


Há dias o Savana publicou um artigo sobre a admissão problemática da filha
do Governador do Banco de Moçambique à vaga de investigadora nesta mesma
instituição. Conforme se lê neste jornal:
"Artemisia Gove foi admitida para o BM para a posição de `investigadora?. Ao
que a nossa Reportagem apurou junto de funcionários do BM próximos do
processo de selecção, a filha do governador, Ernesto Gove, teve uma nota
considerada baixa no exame escrito, comparativamente com outros candidatos.
Ademais, acrescentaram, Artemisia Gove não esteve presente nas entrevistas,
fase determinante para a admissão, mas, mesmo assim, foi seleccionada."


Casos como estes continuam um pouco por todo o país, embora a imprensa não
documente todos eles. Mais uma vez questiono: qual é o tratamento que a
"brigada anti-corrupção" está a dar a este caso? Chamo de brigada
anti-corrupção à todos aqueles que se comprometeram publicamente combater
este mal.


Quando-se inaugura uma escola primária no distrito H ou Y, os políticos não
perdem a oportunidade de convidar a imprensa para mostrarem o seu trabalho.
Custa-me compreender por que razões não é convidada a imprensa para mostrar
aos cidadãos o quão se tem responsabilizado aos maus funcionários públicos
que traem a confiança do Chefe do Estado por conta de interesses
particulares. O único que se atreve de vez em quando é o responsável pelo
sector da saúde. Mas lamentavelmente ataca apenas aos indefesos de forma
humilhante e diante das cameras.


Genericamente podemos concluir que os discursos políticos não são
materializados no nosso dia a dia. Conforme falei logo no início, há modas
que irritam e assim sendo agora pegou uma outra - a revolução verde. A
imprensa que por vezes age como marioneta enche-nos agora desta nova
cantiga. Mas duvido muito que cheguemos à tal Revolução Verde. Primeiro
porque a forma como está sendo conduzida parece-me pouco apropriada.


De que revolução estamos a espera num país em que o forte está na
agricultura de sequeiro. Uma agricultura que depende inteiramente da chuva.
Se esta não cai, não há produção e se cai em demasia, há cheias que como
consequência levam a perda de toda a colheita. De que revolução se espera
com uma agricultura familiar feita na base da enxada de cabo curto? Talvéz
tenham razões e bons motivos para crer que haverá uma revolução verde em
Moçambique, muita pena não nos terem dito claramente de que forma
pretende-se chegar lá.


Talvéz alguém diga que não há novidade nisto tudo que acabei de dizer. É
verdade que sim, pois todo o mundo sabe o que vai bem ou mal neste país.
Mas a diferença está na atitude. Não basta ver e ficar indiferente. O que é
mais fácil de fazer é constatar erros e calar-se; pensar que todo o mundo
sabe disso e nada irá mudar. É aqui que se encontra o embrião do deixa-andar
há muito apregoado pelo chefão.


O deixa-andar não está apenas no Governo, mas antes de tudo é necessário
lembrar que são as pessoas singulares que fazem e constituem tal
Instituição. O deixa-andar é parte integrante do nosso arsenal cultural. É
talvéz daqui que muitos outros problemas vão surgindo de forma cíclica.


Deixarmos toda a responsabilidade para os outros como se nós não fizessemos
parte do sistema constitui uma atitude macabra para o sonho de todos os
moçambicanos.

Erradamente não tomamos nenhuma atitude e deixamos andar, como se o oficial
corrompido no cartório não fosse o meu problema; como se o nepotismo no
Banco de Moçambique fosse apenas o problema dos que se candidataram a tais
vagas e assim em diante. É a falta de atitude que começa comigo e na vida
privada, que finalmente acaba no local de trabalho afectando todo o país. Se
todos nós começarmos a tomar alguma atitude em relação ao que julgarmos
estar a ir mal no nosso País, talvéz algo mude, e a aludida revolução verde
passe de sonho à realidade.

Tuesday, October 02, 2007

A vítima das multinacionais



São poucas as vezes em que ficamos defronte a televisão e nos regosijamos com a notícia do dia. Há dias tive essa sorte e senti-me satisfeito quando através da media, fiquei sabendo que o CIP - Centro de Integridade Publica - confirmou uma das minhas posições em relação ao GCCC - Gabinete Central de Combate a Corrupção. Segundo os participantes de um seminário organizado pelo CIP, o GCCC não tem legitimidade suficiente para ostentar credibilidade desejável. Se isso for verdade estamos mal, ou por outra, não avançamos em termos de combate à corrupção. Foi em vão a cantiga do chefão sobre a guerra contra este mal.
Um artigo publicado pelo imensis.co.mz sobre o ranking da corrupção, da conta que "Moçambique posicionou-se na 111ª posição [...] com 2.8 pontos o que mostra que não houve melhorias na questão da corrupção e transparência no país visto que no `ranking´ de 2006 o país estava na 99ª posição."
Não faz muito tempo que o governo devolveu as pastas dentífricas de marca Colgate aos respectivos proprietários. Estes productos foram apreendidos em conexão com a suposta proliferação de outros ilegalmente semelhantes e nocivos a saúde segundo declarações de gente abalizada na matéria. Na altura da confiscação, pretendia-se analisar laboratorialmente a sua nocividade. Entretanto os resultados laboratoriais parecem ter provado que os agentes químicos nocivos encontravam-se em reduzidas quantidades, o que não constituiria perigo à saúde humana. Assim sendo, o governo decidiu devolver os productos aos comerciantes.
Uma questão a observar é que estamos a lidar com a Colgate - uma multinacional de grande poderio económico como qualquer outra. Por outro lado estamos a lidar com um governo reconhecidamente corrupto à nível mundial e que por ser verdade o actual chefe de Estado serviu-se disso na corrida eleitoral prometendo erradicar esse cancro. Ora bem, parece-me tão simples juntar estas duas peças para em seguida pensar que a Colgate tem a possibilidade de corromper o nosso governo. Que é que uma multinacional não faz para garantir a sua prosperidade? No mundo dos negócios não há muita ética como gostariamos que fosse; daí aquela máxima popular - o Dinheiro é Diabo.
Não me surpreenderia se o nosso governo cometesse um genocídio para acomodar os interesses de um punhado de gente. Imaginemos que os resultados dos exames laboratoriais feitos à pasta dentífrica da Colgate tenham sido viciados. O mínimo que poderia acontecer seria dizimar os consumidores desta marca sem importar a velocidade com que isso aconteceria. Na maior inocência, vamos perecendo por conta de infermidades estranhas, do mesmo jeito k pode estar a acontecer em relacao aos efeitos da MOZAL.
Até agora os Direitos Humanos são cobrados à apenas dois grupos: as entidades governamentais e aos grupos armados de guerrilha. Ainda está em debate se se começa a cobrar também às multinacionais, porque estas têm contribuído bastante para a violação dos direitos humanos.
Enfim, pela corrupção, uns enriquecem e os outros morem. Precisamos de mais instituições como o CIP e a Liga dos Direitos Humanos, que robustecem a sociedade civil moçambicana.

Sunday, June 03, 2007

Behind courage


According to guinness world record, Jackie Bibby and Rosie Reynolds-McCasland (both USA) jointly hold the record having sat in two separate tubs, each with 75 Western Diamondback rattlesnakes on the set of 'Guinness World Records: Primetime' on September 24, 1999 in Los Angeles, California, USA.


Shooting the fear’s heart

What is this thing we call courage? What are the most common situations where people show courage? Why do some people show courage? There are questions to be raised when we try to conceptualize courage.
It’s true that everyone feels afraid of something. There is nobody who never felt fear. The difference is the things or situation which makes someone feel afraid; it varies from one person to another but everybody is afraid of something.
This essay intends to enquire in to the topic stared above, although many scholars don’t show an interest in this topic.
It’s very difficult to find a consensual definition of courage. For this essay, we have to understand courage as a capacity to dominate a personal fear and what intimidates you. Furthermore it’s important to determine what make us overcome our fear.
In general we are able to lose anxiety when we are sure that our enemy is weak and easy to dominate, otherwise we can’t get courage enough to dominate our enemy. For this case, we consider enemy not only people, but everything that make us feel fearful or just scared. It can include objects (a gun, scissor, a mask, etc.), situations (smocking drugs, to drive, to present a paper, etc.), and more.
Fear was also studded by psychologists like J. Watson, and P. Ekman, who argued that it’s innate to all human being. This essay intends to discus this topic by social influences, not by psychological viewing related in innatist theories.
Usually it’s not easy to be convinced that we can dominate our enemy, because we have a common history with our demon. In this history we remember that from the first experience we faced that, something or someone else convinced us that we are weak for that demon. Something or someone ensured us that our demon is too strong and too determined to dominate us. That’s why we run away from the things which intimidate us, instead of facing them. We can’t be afraid of something that we don’t know.
As we said before, we need to understand what makes us conquer our fear and become convinced that it’s possible to dominate our demon. When it happens we are experiencing a moment of courage. In this moment, we lose the sense of danger.
Most of the time, we lose the sense of danger when adrenaline floods our brain. It makes us feel stronger than ever before. When we feel strong, remember, our enemy becomes weaker than us, and we find it easy to confront him. In this situation courage is unquestionable.
Without adrenaline, there are other situations that stimulate a sense of power. Among these are all kinds of drugs like alcohol, opium, cocaine, LSD, etc. Not only can the drugs provide the feeling of superiority against our enemy. Sometimes the political power in the government, economic power in the society, charismatic power, etc. are able to bring us courage against our enemy. Remember that the thing which frightens us varies from person to person, and this variance depends of each persons history related to his enemy. For example, what we hear, read, see, witness, etc. about our demon makes our personal history, determining our fear.
If everybody is afraid of something, the same can be applied for courage. Everybody can show courage in a given situation and circumstance, but it depends on the way one stimulate himself for the moment.
For this section, we can finish the discussion with the following question: How can we naturally produce adrenaline in our body, witch is supposed to be the fuel of courage? What is the relationship between the feeling of fear and the real possibility of danger?


The feeling of fear and the real danger

We said before that none could be afraid of something he doesn’t know. First of all, he or she has to hear or get some experience about the object of fear. It will create knowledge about how it can be dangerous for him or her. The idea of danger, can be different from each person to another who experienced the same conditions of fear. This let us to conclude which that idea produced in our mind is not objective, and sometimes has not a direct relationship with the real danger. It happens because the human rationality have not a power to understand and to get all the information about the object observed as Karl Popper said. We can only get a part of information about the object observed. For this instance, the fear we create about something, have not a direct relationship with the danger of the object which frighten us.
There a several cases which one can be afraid of something that in itself is not dangerous, and the opposite is true. One can lose the sense of danger for a thing which is really dangerous for his life. For the first case the example is the situation that someone is afraid to tell some information to his friend, because he expects a bad reaction from him. But for his surprise there is not a bad reaction after the action take place. What really happened was the idea of danger created with the information got about that person. Those information can be given by people who really don’t know exactly the object of our fear. Because our mind, we accept as a truth all the data about our object of fear, and next we create automatically a fear about that. But later the reality shows us that our object is not really dangerous.
The second example is applied for people who use drugs (alcohol, cocaine, opium, LSD, morphine, etc.). They are supposed to lose completely the sense of danger, but it must be considered by the doze they take that. In some case, there are drug users who comity crimes without measure it’s consequence, and during their incursion they involve themselves in a life risk without feel afraid of something. This example show, that the danger has its own existence which don’t depend of what we think about it. There are so many examples that can explain how sometimes we produce wrong ideas which frighten us, or just clean up our fear replacing it by courage.
An Austrian philosopher – Popper - has said that the human mind cannot reach the truth completely. We can find only a part of information about the object we intend to stud, although the positivists argued differently. But when we observe the behavior behind the fear and courage, it’s easy to understand what Popper wanted to tell us. Following this line of ideas, Lakatos – a Hungary philosopher- argued that no theorem of informal mathematics is final or perfect. This enhance the idea we stated before, that our mind cannot reach the truth exactly, which make us sometimes get fear or courage, but those feelings have not a direct relations with the object we are involved with.
To end this section, let’s raise one more question: what’s the role of fear in our lives?


The courage on Socrates death

As we said before, none can be afraid of something that he doesn’t know. But one could ask about the fear people feels with death. We know that so many people feel fear about the idea of disappear forever. This must be understood as the conception that Mr. Sadam Ussein never more will be the same person. Never more will be the president, of his country, will never see the people he knew, will never listen a music he liked, etc. he finished, and it will be concluded when the history forget him. Usually people are afraid of this idea of death. With this statements, we conclude that people thinks that they know something about death, this’ why they become afraid about it.
Scholars like Stephen Maret, Arthur Janov, Stanislav Grof, and Frank Lake, etc. have studded the origins of dread of death. Frank Lake for example, argue that people who are able to commit suicide, had a near of death experience during their birth. In that moment they experience a psychological and physical traumas that bring them the will to return to the womb or just die, for solve the pain. It mean that their unconscious save the experience of the moment which will determine their behavior for all their lives. For this instance during adult life, for any problem which causes pain or anguish, the person realizes that the death can be the solution. In one word, could say that people who are not afraid to commit suicide or just die, have some experience/or are familiarized with near of death experience. In other hand, they know their object of fear.
A Greek philosopher, Socrates, was condemned to die because of his political and philosophical position in his country. “He was nevertheless found guilty for corrupting the youth of Athens and sentenced to death by drinking a mix of the poisonous hemlock”. Before he was killed, he experienced a imprisonment for some pear of days. During this time, he had a chance to escape from the prison but he refused that, preferring to die.
Some scholars argue that “shortly before dying, Socrates spoke his last words to Crito saying, "Crito, we owe a cock to Asclepius. Please, don't forget to pay the debt." Asclepius was the Greek god for curing illness, and its likely that Socrates' last words were implied to mean that death is the cure, and freedom, of the soul from the body”.
His courage deserves some critical analysis, because it can be considered an uncommon behavior. A lot of people who says that are not afraid of death, shows different behavior when the conditions to die are created. For example they can beseech when a gangster point him with a gun; they can become worried when are too ill; they can run away from a dangerous animal in a bush, and so on.
To get courage, we have to mind ourselves which we are able do dominate the object of fear. Probable Socrates had a strong faith about life after death; this is why he was convinced that death is the cure of the soul from the body. He believed in a good life of the soul outside the body. This faith makes him strong in his position to deny running away from the sentence he was condemned, and accept death as a release of human soul. Socrates agued that a real philosopher, must not be afraid of death. Around his behavior, we can consider that his courage was motivated by the strong faith he developed about the death, so for the instance he won and dominate the fear.
When we are sure about how strong we are, and about the power we have to dominate something, the fear disappear completely emerging in that moment the courage. This one doesn’t appear if we don’t trust in our capability or just our power related to the object of relationship.
Not only the drugs or adrenaline can provide us courage; there are many reasons for that including the faith as the case of Socrates. When we believe in something, and we are sure that the object of our faith is smooth and kind, it’s impossible to get fear from it. Differently, the one who don’t have a same idea from us can become afraid to touch the same object we touched, it doesn’t mean that our faith cannot betray us. Sometimes we get deception when later we discover that during all the time we lived an illusion about our faith. It’s difficult to state about the Socrates case. We can’t say if he got deception or not about the things he believed concerning the death, and it’s not a purpose of this essay.
Scholars argue that “a characteristic of living things is the fear of death.[…] Life is 'programmed' with fear of death from the moment of creation, and the purely primal 'meaning of life' would be to avoid death as long as possible”. This statement takes us to the idea of fear relevance. Is it true that we live and survive because of fear?

Friday, March 02, 2007

A FRELIMO não presta

Ouvimos, vezes incontáveis, acusações para aqui e acolá sobre a imoralidade ou incompetência dos dirigentes moçambicanos. Por coincidência tais dirigentes pertencem quase que na sua totalidade ao Partido FRELIMO, que desde a independência conduz o destino deste país. Após 32 anos de governação frelimista, Moçambique aparece em 2006, na 10ª posição[1] entre os países mais pobres do mundo, facto que vem enaltecer as acusações que pululam na boca dos descontentes desta situação.
Moçambique vive maioritariamente da ajuda externa e em casos de emergência causadas pelas intempéries da natureza (cheias de 2000, na região sul e as cheias de 2007 na região centro), a nossa diplomacia consegue atrair investimentos extra orçamentais.
Desde as primeiras eleições realizadas em 1994, “Cerca de 400 milhões de dólares norte-americanos foram investidos, pela comunidade internacional, na área da consolidação da democracia em Moçambique.
[...] Mar De Tollenaere, que já foi funcionário do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) em Moçambique, do Secretariado Técnico de Administração Eleitoral (STAE) e da Unidade Técnica de Reforma do Sector Publico (UTRESP), afirmou que aquele valor representa menos de cinco porcento do total da ajuda externa canalizada a Moçambique nos últimos 10 anos[2]”.
Os investimentos canalizados para a economia moçambicana poderiam quiçá elevar o desenvolvimento sócio económico do país para um nível acima do que se encontra actualmente. Embora os relatórios governamentais e da comunidade internacional digam o contrário, a meta está muito aquém da realidade.
“A FRELIMO não presta” é como os telespectadores do jogo da governação julgam a administração que conduz o destino do nosso país. Na tentativa de encontrar alguma explicação para os demais fracassos da máquina burocrática nacional, há que fabricar o bode expiatório, e neste caso voila – a FRELIMO.

Os factos supracitados remetem-nos à um raciocínio muito simples no sentido de encontrar o cúmplice de todos os desencantos atravessados pelo país. Estamos a falar das disfunções da burocracia na função pública, o lixo que grassa a capital do país, as estradas esburacadas, os esgotos rebentados pelas artérias da cidade, os semáforos avariados, a eterna demora na emissão dos BI’s pela DIC, as publicidades enganosas, a falta de criatividade nos programas de TV, o crime organizado, os relatórios forjados das instituições públicas, a indisciplina dos chapeiros, o oportunismo da polícia de trânsito, etc. Todos estes problemas são imputados ao bode expiatório dos moçambicanos.
Tomaria neste momento a ousadia de afirmar peremptoriamente sobre o lado funcional desta atitude que caracteriza o cerne da identidade moçambicana. Esta, conduz-nos à um comodismo tal, que nos livra da auto-crítica, imputando deste modo uma total responsabilização ao Governo pelo Desenvolvimento do país. A funcionalidade desta postura, está no facto de nos trazer uma paz de espírito ao arredarmo-nos de todo o tipo de culpabilidades sobre a estagnação de Moçambique. Mas ao mesmo tempo, este comodismo, e paz de espírito, é conjunturalmente fatal por basear-se uma convicção ilusória e desprovida de qualquer análise sustentável sobre a situação em causa. O todo é feito pelas partes, assim, esquecemo-nos que o comportamento de cada um de nós tem alguma influência sobre o sistema.
A FRELIMO vem deste modo espiar as nossas incompetências, hábitos e costumes que contribuem negativamente para o desenvolvimento sócio-económico do país.
Não se pretende com isto desresponsabilizar as insuficiências deste partido. Como qualquer instituição de cariz político, é normal que nas suas directivas organizacionais cometam um e outro atropelo, mas não é por isso que devemos deixar de olhar para as nossas práticas costumeiras, como indivíduos singulares, e que são nocivas ao desenvolvimento do país.
A FRELIMO, como um todo, é constituída por indivíduos singulares que acreditam em valores ético e morais, que têm uma certa postura, hábitos, sobretudo com uma certa personalidade e/ou identidade próprias. Estes por sua vez, foram socializados de igual forma que os restantes cidadãos não membros do partido em referência, o que lhes impinge uma mesma identidade no que tange aos valores partilhados. Assim sendo, o indivíduo está sujeito a comportar-se no partido a que pertence de acordo com a sua personalidade.
Tratando-se de um quadro do partido, a operar a máquina governativa do país, o indivíduo conduzirá a sua direcção de acordo com os seus valores, e convicções pessoais.
Embora os estatutos, os códigos de conduta, e a legislação em geral, sirvam para garantir a previsibilidade dos comportamentos, há que considerar a iniciativa dos indivíduos em aderir ou não ao preceituado pela instituição a que pertence, ou mesmo à sua comunidade. Foi nesse âmbito em que o conceituado sociólogo americano – Talcott Parsons - considerou que o ser humano não é um idiota cultural. A sociedade e as suas instituições criam as regras, daí, cabe ao indivíduo aceita-las ou não. Normalmente a não-aceitação dos preceitos institucionalizados rotula o indivíduo visado de desviante. Não nos vamos perder com a Sociologia dos Desvios. Foi apenas um meio para chegarmos a ideia de que os indivíduos que fazem parte da FRELIMO e do seu Governo, antes de serem frelimistas ou governantes, são também pessoas singulares com costumes próprios, que muitas vezes vão contra os valores institucionais, ético e morais.
Não é a FRELIMO quem dá orientações para se chegar ao local de trabalho com uma hora e meia de atraso. Não é este partido que ordena os moçambicanos a escreverem os seus nomes sobre as notas do Metical da Nova Família; a FRELIMO nunca disse que devíamos desenvolver a cultura do puxa-saquismo ao invés da competência técnica. Ser puxa-saco é uma questão de valores desenvolvidos por fulano ou sicrano, independentemente da sua filiação partidária, religiosa, desportiva, etc. resumindo, ser puxa-saco é um modus vivendi.
Não foi o partido no poder quem disse que as pessoas deviam urinar atrás das árvores, julgar umas as outras em função das aparências, não querer trabalhar em horas extras; chegar embriagado no posto de trabalho; largar o serviço três horas antes do preceituado pela instituição porque é sexta feira – dia dos homens - , e por ai em diante.
O fraco desenvolvimento do nosso país depende dentre vários factores, da nossa atitude como cidadãos integrantes do sistema. Parecendo que não, mas a atitude conta.
Como disse um anónimo desses slides show partilhados por e-mail, o desenvolvimento de um país não tem nada a ver com a sua idade, porque senão, o Egipto, a Grécia, a Turquia, etc. seriam as nações mais prósperas do planeta. E por sua vez, a Austrália, o Canada, e os EUA, não seriam o exemplo de crescimento sócio-económico acelerado.
O desenvolvimento não depende também exclusivamente dos recursos naturais existentes num país. O Japão é um exemplo disso, com um défice de recursos naturais, importa-os de todo o mundo, transforma-os e vende o produto acabado, fazendo de si a segunda maior economia do mundo.
Enquanto continuarmos a optar pela lei do menor esforço, como por exemplo, beber muita 2M e trabalhar pouco, andar em carros de luxo, construir mansões sem nenhum esforço no trabalho digno, dificilmente almejaremos o desenvolvimento tanto ansiado. Isto não tem nada a ver com o partido no poder. Para qualquer que seja o partido no poder, enquanto o seu governo for repleto de indivíduos que não cumprem à risca com os ditames institucionais, e tenham uma disciplina metálica, para não dizer de ferro, nada feito. Sem querer arriscar em futurismos, mas podemos prever que continuaremos a procura de um bode expiatório, para fugirmos das nossas responsabilidades, e para não assumirmos a nossa incompetência.
Neste momento, o bode expiatório encarna-se no partido dominante, razão pela qual os outros não hesitam em dizer que a FRELIMO não presta.



[1] Dados do PNUD.
http://noticias.uol.com.br/economia/ultnot/idh.jhtm
[2] http://macua.blogs.com/moambique_para_todos/2006/11/consolidao_da_d.html

Sunday, February 04, 2007

Hipótese sobre a relação entre a fraude académica e a corrupção


Actualmente os discursos sobre o desenvolvimento encontram na corrupção, um elemento que negativamente contribui para o bem das nações. Com efeito importa buscar a génese deste mal que concorre para um outro ainda maior – a pobreza e o subdesenvolvimento.
Existem, portanto, várias explicações que se podem dar às origens da corrupção; mas para este propósito, urge-nos olhar apenas para um dos elementos sendo ele a fraude académica. Pretendemos estabelecer uma correlação entre duas variáveis - a fraude académica nas suas demais variantes, incluindo a cábula, e a corrupção na sua forma multifacetada que pode de certa forma incluir o furto.
Nesta primeira parte vamos delimitar a percepção que se pretende para o conceito de cábula, ou fraude académica, tanto quanto os de furto e corrupção. Na segunda parte procuraremos estabelecer a correlação entre as duas variáveis supracitadas.
No primeiro conceito (cábula) reside a ideia de fraude académica que consiste no uso não permitido de auxiliares de memória durante a avaliação académica. Tais auxiliares de memória podem-se representar sob a forma de artefactos como a calculadora electrónica, textos gravados em telemóveis ou papéis, etc. por vezes feito sob códigos descortináveis somente pelo utente. Existem outras variantes da fraude académica conforme nos lembra o Professor Ricardo Gregório[1] – Coordenador assistente do Centro de Pesquisa e Pós Graduação das Faculdades Metropolitanas Unidas no Brasil. Segundo as suas palavras dentre elas destacam-se:
a) a transcrição de várias laudas de obras sem a respectiva indicação do autor,
b) a cópia integral de trechos de livros mediante meras alterações de palavras mas sem modificação do conteúdo,
c) a paráfrase (explicação mais desenvolvida de um texto, conservando-se a ideia original) sem a citação das fontes, e
d) a cópia, pura e simples, do trabalho do colega de classe que assim anuiu fosse feito. Como se não bastasse, alguns discentes ainda baixam trechos de obras publicadas na Internet e outros ainda, encomendam seus trabalhos em sites criados por profissionais especializados.
Por seu turno a Wikipedia define a corrupção como um conceito geral que descreve uma organização, ou sistema interdependente no qual uma das partes não põe em prática os deveres pelos quais a mesma foi concebida, ou cumprindo com os seus deveres de forma não apropriada, em detrimento dos propósitos originais do sistema.
Por furto deve-se entender a subtracção de coisa alheia móvel para si ou para outrem. Difere-se do roubo por ser praticado sem emprego de violência ou grave ameaça. Deve ser ressaltado que a descrição típica do furto exige elementos como o dolo, que consiste na vontade livre e consciente de subtrair a coisa móvel; e a finalidade especial contida na expressão "para si ou para outrem". Wikipedia.com (2006)
Os três conceitos ora abordados, têm elementos em comum, que se afiguram úteis para a análise que pretendemos levar a cabo, conforme veremos a seguir.
Uma característica patente quer na fraude académica quer na corrupção, é o carácter deplorável neles patentes, no atinente a moral e a ética. O indivíduo que pratica cada um destes actos, tem a plena consciência da imoralidade neles vincado, com efeito procura no máximo criar condições para que não seja descoberto. Esta precaução surge pelo facto de se ter em mente a ideia de sanção social impingida pela sociedade aos infractores das suas normas.
O cábula, sabe que o docente tomará alguma medida dura se o descobrir, da mesma forma que o ladrão tem a consciência dos riscos que corre após ser surpreendido ou simplesmente descoberto. Por essa razão ambos agem sob a dicotomia medo-coragem. Por um lado estes fraudulentos temem as represálias advindas dos seus actos, por outro lado, tomam coragem para embarcar na fraude porque as recompensas serão enormes.
A díade estudante cábula e o funcionário corrupto, goza de altas recompensas quando executam com sucesso a fraude em que se envolvem. O cábula pode obter boas notas na sua avaliação, se não for descoberto durante o acto, da mesma forma que o corrupto, é bem compensado após o sucesso da sua fraude. As altas recompensas de uma fraude bem sucedida são um dos elementos que incentivam os actos que se chocam com os valores ético-morais.
Os actores de cada uma das variáveis que compõem a aludida díade estão convictos dos riscos que correm, mas mesmo assim, caracterizam-se por um alto nível de coragem e desrespeito aos valores ético-morais na expectativa de vencer os riscos e ganhar as recompensas pela qual buscaram.
Finalmente um dos elementos em comum nesta díade reside no facto de se pretender meios curtos e menos sinuosos na consecução de certos fins.
O cábula, é geralmente conotado como o estudante preguiçoso que pretende obter boas notas durante a avaliação escolar ou académica. Por sua vez, o corrupto é tido como um actor que ao invés de ganhar a vida com dedicação e empenho no trabalho, opta pelos caminhos mais curtos, e sempre em prejuízo de outrém, senão mesmo do sistema em que se encontra inserido.
Se, por um lado, em ambientes estudantis e/ou académicos prevalece um clima de conduta e comportamentos regidos pelos valores ético-morais, diríamos que o mesmo acontece em ambientes de trabalho (política, administração pública, negócios, etc.), na esfera social. Assim sendo, pode ser que a mesma predisposição em violar a ética no ambiente académico também esteja presente ou se manifeste futuramente no ambiente de trabalho.
Aurora Teixeira[2] e Fátima Rocha, ambas da Faculdade de Economia da Universidade do Porto, levaram a cabo uma pesquisa que avaliou 21 países da Europa (Polónia, Eslovénia, Roménia, Portugal, Espanha, Itália, Turquia, Áustria, França, Alemanha, Irlanda, Reino Unido, etc.), América Latina (Argentina, Brasil, e Colômbia), África (Nigéria e Moçambique) e EUA. Os resultados mostraram que para além de forte, existe, também, uma, correlação directa entre a fraude académica e a corrupção no ambiente de trabalho. Por outras palavras o estudo mostrou que nos países com maior índice de fraude académica, apresentam igualmente elevados níveis de corrupção. Por exemplo, um dado que escapou a pesquisa acima mencionada, é referido num relatório da Exams Ethics Project. Esta ONG, alega que na Nigéria – um dos países mais corruptos do mundo - a fraude académica e a corrupção são um grande negócio[3].
Um dos factores que motiva o perpetuar da fraude académica, é a falta de sanções severas aos seus praticantes. O estudo supracitado refere que ser apanhado a copiar não acarreta sanções sérias e, que estas, não têm um efeito desencorajador da prática. Segundo a pesquisa, o exame é anulado e o aluno chumba, o que aconteceria na mesma, caso não tivesse copiado, porque não tinha estudado. Para além deste elemento, a pesquisa demostra que muitas vezes, o ambiente na sala de aulas também tem favorecido a fraude académica.
No entanto, podemos com as informações que circulam nos media, admitir que temos vivido sérios problemas que de certa forma toleram a fraude académica, o que, de algum modo, pode explicar os níveis de corrupção que actualmente vivemos. Há menos de 5 anos, a UEM[4] anulou um dos exames de admissão por ter-se descoberto que haviam estudantes que traziam de casa, exemplares já resolvidos. Contra a expectativa dos cidadãos, até hoje não se conhecem os autores de tais actos, e muito menos as sanções a que foram sujeitos. Na faculdade de Direito da mesma instituição, já foram reportados casos de estudantes que fizeram exames em nome dos seus colegas, mas até ao momento, nada se sabe sobre o desfecho desta matéria. O jornal electrónico Zambézia Online[5], reportou a 11 de Novembro de 2004 que 7 casos de fraude académica foram identificados durante os exames finais da 10ª e 12ª classes na cidade de Pemba em Cabo Delgado. Conforme anteriormente aludimos, em situações do género a única sanção decretada, tem sido a reprovação dos estudantes, e foi o que aconteceu no caso acima mencionado. Este tipo de sanções não desencorajam a fraude académica nos estudantes. Exemplos como estes, estão aos montes no nosso sistema de ensino.
Moçambique apresenta vários indícios de elevados níveis de fraude académica, o que talvez explica os índices assustadores de corrupção que o país enfrenta. Não pretendemos, com isso, dizer que a corrupção tem como único factor motivador a fraude académica, mas que esta última, é uma pré-condição para tal. A pesquisa supracitada, avança que existe uma correlação forte e directa entre estas duas variáveis. Doutro modo, dir-se-ia que quanto mais acentuada for a fraude académica, maior é a probabilidade de se ter funcionários corruptos no futuro.
Se concordarmos que tais resultados sejam válidos para o caso de Moçambique, seria importante que o Ministério da Educação e Cultura começasse a encetar esforços no sentido de combater severamente a fraude académica, muito mais do que actualmente é feito. Cabe a esta entidade, definir as sanções que mais se adequam ao desencorajamento da fraude académica. Desta forma estar-se-ia a contribuir para a redução dos índices de corrupção, e consequentemente favorecendo o desenvolvimento do país.
Conforme referimos logo de início, existem muitas outras variáveis que concorrem para a corrupção como para o subdesenvolvimento do país. Mas para este propósito, procuramos apenas compreender o subdesenvolvimento do país à partir da correlação entre a fraude académica e a corrupção, de modo a dar mais uma cor ao debate em torno do desenvolvimento de Moçambique.

book sambo
[1] http://www.fmu.br/pdf/cppg_37b1.pdf#search=%22fraude%20academica%22
[2] http://dn.sapo.pt/2006/06/18/tema/alunos_copiam_mais_paises_mais_corru.html
http://www.apagina.pt/arquivo/Artigo.asp?ID=4832
Aurora Teixeira é Mestre em Economia pela Faculdade de Economia do Porto (FEP), com o Prémio do Conselho Económico e Social, e Doutorada em “Science and Technology Policy Technology and Innovation Management” pelo SPRU - Science and Technology Policy Research, da Universidade de Sussex, Reino Unido. É docente da FEP desde 1994 nas áreas de Macroeconomia, Mudança Estrutural e Inovação, Gestão da Inovação, e Projecto de Inovação e Tecnologia (Mestrado em Inovação e Empreendedorismo Tecnológico, da Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto. É também editora dos “Working Papers” e Coordenadora do Programa de Seminários da FEP.

[3] http://www.bc.edu/bc_org/avp/soe/cihe/newsletter/News38/text003.htm
[4] Universidade Eduardo Mondlane
[5] http://www.zambezia.co.mz/content/view/257/