Friday, November 21, 2008

Um gesto, várias interpretações

África é um continente de heterogeneidades e homogeneidades. Embora contraditório é importante realçar que dependendo do nosso ângulo de análise podemos buscar e encontrar muita diversidade ou similaridades. Do ponto de vista etno-linguístico e cultural podemos encontrar uma heterogenidade infinita; mas também se quisermos podemos encontrar similitudes no que tange aos problemas sócio-políticos e económicos. É um pouco sobre esta possibilidade de se ler um mesmo objecto de formas diferentes e em função do nosso ponto de observação que me pretendo debruçar nas linhas que se seguem.
Achei interessante os textos do Mia Couto e do Patrício Langa ao versarem sobre África e a relação que se pode estabelecer com os EUA.
Num estilo característico Mia escreveu sobre os problemas sócio-políticos e económicos africanos, tendo com isso chamado os cidadãos africanos a reflectirem sobre a possibilidade de empreenderem mudanças rumo ao futuro que todos almejam. Por sua vez Patrício Langa – um dos poucos sociólogos lúcidos da praça – contrapós-se ao raçocínio de Mia pelo facto deste não ter explicado as razões por detrás dos inúmeros problemas estruturais e conjunturais que assolam os países africanos. Por outro lado a inquietação de Patrício vai para a aberrante comparação feita entre o chá e o leite – se assim o quisermos considerar – feita por Mia. Ao seu ver, no lugar de comparar o chá pelo leite, Mia devia comparar o chá verde ao chá preto. A analogia que faço resume-se na imaginação de Mia em relação ao rumo dos factos caso Obama fosse africano. Para Patrício é absurdo comparar-se África aos EUA.
Lamento não poder entrar em detalhes sobre os conteúdos dos textos ou reflexões dos actores supra-indicados. Não obstante presumo que será relativamente difícil para quem não os leu poder compreender o assunto que pretendo aqui abordar.
Ora bem, o que me parece é que estamos perante dois actores de perspectivas diferentes olhando para um mesmo objecto de análise. Perante um mesmo fenómeno social é natural que se façam leituras diversificadas dependendo da perspectiva com que o observador se identifica. O antropólogo, o historiador, o escritor, o humorista, o sociólogo, etc. que têm por objecto de análise o social, estão sujeitos a visões diferentes sobre o seu objecto. No entanto seria demais exigir-se ao humorista uma leitura do social na perspectiva economicista.
O que interessa ao escritor no retrato da sociedade talvés não seja responder o porquê das coisas. Pode por exemplo constituir a sua preocupação convidar com muita mestria aos seus leitores a reflectirem sobre determidado assunto que lhes passava despercebido. Este trabalho é, no entanto, feito na base da criatividade artística associada a estética e outros valores da arte literária. Nesse campo Mia é mestre, razão pela qual tornou-se referência nacional e internacional. Apesar do seu mérito, me parece que este escritor nunca decidiu invadir os outros campos do saber reivindicando que sigam as suas pegadas na leitura do social. Não me lembro de alguma tendência do Mia em se vangloriar face aos outros leitores do social. Mas quer me parecer que alguns sociólogos pretendem directa ou indirectamente convencerem ao mundo fora que têm a melhor maneira de ver os factos sociais comparativamente aos outros campos do saber.
Nem sempre o porquê é a melhor resposta. Não acho que Mia tenha cometido algum pecado por não responder ao porquê. As respostas descritivas que respondem ao como também são uma forma interessante de olhar para o social e chamar aos actores sociais a auto-reflexão.
De uma forma geral toda a análise social depende dos objectivos que o autor incorpora no momento do seu labor. Tenho as minhas dúvidas em relação ao facto de Mia querer fazer o papel de sociólogo na leitura do fenómeno Obama. Provavelmente este escritor nunca se quis furtar da sua arte para violar o espaço dos sociólogos.
Concordo plenamente com Patrício em relação a necessidade de se explicar o porquê dos factos para a sua melhor compreenão. Mas também discordo que isso seja um imperativo categórico para qualquer leitura que se pretenda fazer sobre o social. Ademais quer me parecer que para responder ao porquê, é necessário que se faça alguma pesquisa de modo a evitar expeculações. Penso que Mia Couto não se muniu de ferramentas que os sociólogos usam para compreender a sociedade antes de escrever o seu texto intitulado: “Se Obama fosse africano”. E isso aconteceu provavelmente porque ele não quis fazer o papel de sociólogo, antes sim, um escritor igual a si mesmo.
Cada campo do saber tem uma forma peculiar de encarar o seu objecto de estudo no entanto nenhum deles se deve considerar melhor que o outro. Criar uma hierarquia ou estratificação dentro das ciências sociais e humanas tanto como no campo das artes, seria uma tarefa condenada ao fracasso pois o social é complexo.
Até hoje Leonardo da Vinci é tido como um génio pela mensagem e pela forma como a transmitia de forma simbólica. The Da Vinci Code de Dan Brown tornou-se num best seller talvez por atacar a Igreja Católico-Romana de forma perspicaz; mas em nenhum momento dessa obra prima o seu autor preocupou-se em explicar o fenómeno que abordava de forma a agradar aos experts em sociologia da religião, o que não tirou o seu mérito.
O caso Obama merece sim alguma reflexão em torno das condições para uma democracia efectiva em África, por outro lado pode-nos ajudar a reflectir sobre o âmago dos problema sócio-políticos vividos no continente africano.
Em suma gostaria de reiterar que existem várias formas de ler os fenómenos sociais, dependendo do campo disciplinar em que o observador se encontra. É importante notar que a tendência de hierarquizar os demais campos do saber – e muito particularmente no ramo das ciências sociais e humanas; arte literária, artes plásticas, artes cénicas, etc. – pode-se constituir num perigo para o processo de construção do conhecimento.

Friday, November 14, 2008

Barack Obama e o messianismo americano

Muitos movimentos messiânicos surgem nos períodos de grandes crises sócio – políticas, sendo o prato forte o anúncio do fim de uma era e o começo de uma outra melhor. Isso não se difere tanto do quem vem acontecendo nos EUA com Barack Obama - o messias que se espera poder mudar os destinos daquele país transformando-lhe na Terra Prometida.
“Barack” em árabe significa o abençoado. Se quisessemos ir pelo lado metafísico talvez seríamos obrigados a dizer que a bênção de Obama foi profetizada aquando do seu nascimento e reside fundamentalmente na árdua missão de tirar o seu país do caos.
A bênção de Obama vem pelo facto de levar nas costas a responsabilidade de provar ao mundo inteiro que a competência técnica, política, e de qualquer outra natureza não tem nada a ver com a cor da pele. Vários argumentos antropológicos, médicos, etc. de natureza racista tentaram vezes sem conta criar uma estratificação social baseada na cor. Mesmo em sociedades mais cultas como a França é escusado dizer-se que não hajam resquícios de racismo.
Alguém disse que a tomada de poder por Obama significa o fim da supremacia WASP, mas é meio suspeito fazer esse tipo de pronunciamentos porque isso significaria por outras palavras retornar aos discursos racistas e em última análise dizer que ele foi eleito somente pelos negros o que não constitui a verdade.
A vitória de Barack Obama pode sim significar a mudança de mentalidade dos americanos e do mundo inteiro passando-se para uma nova fase da história da humanidade em que se olha pelas diferenças da cor da pele não como factor de estereótipo ou supremacia de uns sobre os outros, mas simplesmente como diferença. Quarta e quinta feiras são apenas dois dias de semana diferentes quanto o preto é diferente do branco, portanto sem motivos para hierarquizá-los.
É importante lembrar que a mudança de mentalidade dá-se num longo processo de transformações sociais ocorridas na escala Global onde Kofi Annan contribuiu pelo trabalho plausível que prestou às Nações Unidas na qualidade de secretário geral. Durante o seu mandato não faltaram cépticos para questionarem e duvidarem das capacidades intelectuais de um africano –de raça negra – na gestão das Nações Unidas. Bastava um pequeno deslize para conotarem as incongruências pessoais à incapacidade de todas as pessoas da sua cor. É o mesmo desafio que Obama enfrenta neste momento, e para tal é importante que siga o exemplo de outros negros como William Dubois, Marcus Garvey, Martim Luther king Jr., entre outros, que no decurso da sua vida passaram por vários desafios num mundo em que os preconceitos raciais eram enormes.
Quando Bush assumiu o poder, em 2001, herdou um superávit de US$ 651 bilhões, mas vai deixar o orçamento com déficit recorde de US$ 438 bilhões, sem levar em consideração o pacote de US$ 700 bilhões. Obama considera que reformas de longo alcance serão necessárias para proteger cidadãos e empresas americanos. Obama deixa claro que a estrutura fiscal precisa ser modificada para se tornar mais justa. Isso significa que os ricos terão de pagar mais[1]. Esta medida pode ser plausível mas é importante que haja muita prudência e distanciamento em relação ao nível emocional do novo presidente dos EUA.
Se Bush vetou contra o financiamento das pesquisas em torno das células-tronco pode ser sinal de gestão racional de recursos o que não deve ser visto como desinteresse em relação ao avanço da medicina. Porém Obama promete reverter a situação financiando pesquisas das companhias de células-tronco. Este posicionamento surge numa altura em que os EUA precisam de se recuperar da crise financeira que se estima poder ser pior que a de Roosevelt.
De messias, Barack Obama pode se transformar numa grande decepção para todos os que apostaram nele na expectativa de contribuir para as mudanças em favor da nova ordem mundial. Não se pretende porém afirmar que o sucesso da sua governação dará fim aos preconceitos raciais, antes sim que tal pode contribuir para a mitigação paulatina dos mesmos.
As mudanças sociais ocorrem infelizmente num processo lento comparativamente as outras mudanças. No entanto o fenómeno Obama suscita várias leituras; mas neste caso particular diremos que simboliza acima de tudo uma grande mobilidade social do povo afro-americano: da Senzala para a Casa Grande; do Getho para a Casa Branca; e finalmente da White House para a Black House.
[1] http://www.estadao.com.br/interatividade/Multimidia/ShowEspeciais!destaque.action?destaque.idEspeciais=849

Sunday, September 14, 2008

Alternância governantiva em Moçambique: ainda uma miragem?



A história da política em Moçambique no pós Acordos de Roma tem muito que se apreciar pois nela podemos compreender as tendências do desenvolvimento sócio-económico local. A aposta na democracia foi desde cedo reivindicada como cavalo de batalha do maior partido da oposição sendo que o do poleiro conformou-se com a nova roupagem do actual cenário político.
Não raras vezes o partido no poder apareceu em público desmentindo as gabarolices da oposição segundo as quais foram os mentores e propulsores da democracia no país. No entanto alegam que a democracia já estava no seu projecto político antes que a oposição se apropriasse dela. Verdade ou não, os factos falam por si.
A alternância governativa é um dos principais marcos do exercício democrático pois ela demonstra que a vontade do povo determina a ascenção ou não de determinados políticos para as posições que conduzem os destinos do país. Ao contrário disso, estaríamos diante de uma outra forma de governação distante dos princípios democráticos.
Nos últimos anos temos vindo a acompanhar as mudanças que ocorrem no seio do maior partido da oposição em Moçambique. A expulsão da RENAMO à figuras galvanizantes como a de Raúl Domingos, em 2000, marcaram o começo daquilo que poderiamos chamar de uma nova era no cenário político moçambicano. Esta figura tida pela opinião pública como o cérebro daquele que se considera até então o maior partido da oposição, poderia ter ofuscado os interesses da liderança política do seu partido. No entanto, a formação de mais um partido político que culminou com tal medida, resultou na dispersão dos votos destinados a RENAMO. Comparativamente ao que se pensava na altura, nem a RENAMO, nem o PDD de Raul Domingos venceram as eleições. Ademais a RENAMO entrou numa queda vertiginosa de perca dos assentos parlamentares.
Parece claro que as coligações partidárias no seio da oposição política local tem contribuido positivamente na aglutinação dos votos, da mesma forma que a sua dissociação concorre para a dispersão dos seus votos enfraquecendo-se cada vez mais em favor do partido no poder. Esta lógica não é tão nova quanto parece. Já diz o velho ditado que a união faz a força, e servindo-se disso, a técnica dividir para reinar foi usada pelos colonizadores portugueses e belgas em África como forma de fortalecer o seu poderio sobre os nativos.
Até hoje o dividir para reinar continua uma técnica de dominação político-governamental muito usual para dominar aos mais distraídos. Do ponto de vista técnico é uma estratégia plausível principalmente se para os seus mentores os fins justificam os meios. Por outro lado é uma estratégia correcta porque no cenário político a competição dita que a vitória merece aos mais inteligentes, se bem que tal inteligência nada tem a ver com as fraudes decorrentes do escurtínio eleitoral.
A mesma popularidade de que gozava Raúl Domingos antes da sua expulsão do partido que o viu crescer, hoje parece acompanhar o edil da cidade da Beira – Davis Simango. E mais uma vez parece que o cenário tende a repetir-se no sentido de haverem clivagem partidárias que impliquem a curto ou médio prazos no seu enfraquecimento.
Após a sua contra-indicação de candidatar-se às municipais da cidade de onde Simango goza maior popularidade vários foram os apelos para a sua candidatura a título independente. Este apelo parte da visão simplista segundo a qual o resultado seria quase que automaticamente a favor da sua vitória eleitoral.
Movido por interesses pessoais a candidatura de Simango pode efectivamente surpreender aos seus simpatizantes com uma derrota esmagadora a favor da FRELIMO, pois o comportamento dos actores sociais são extremamente imprevisíveis. Nada garante que a candidatura independente de Davis Simango garanta-lhe necessariamente a vitória devido ao trabalho por si efectuado naquele município. Ademais ela seria mais uma apunhalada no enfraquecimento da oposição moçambicana.
A fragmentação da oposição é como uma faca de dois gumes pois no lugar de contribuir efectivamente para o exercício da democracia ela concorre para o seu enfraquecimento na medida em que fica cada vez difícil a possibilidade de uma alternância governativa. O partido FRELIMO aparentemente mais coeso detém de uma larga experiencia no cenário político nacional, o que lhe confere vantagens enormes face a instabilidade no seio dos demais pequenos partidos da oposição.
Mais uma vez as actuais clivagens internas no seio da RENAMO podem ser usadas como cavalo de batalha pelos mais experientes no cenário político dando azo a manutenção de um Estado monopartidarizado e resistente a alternância governativa.
Para o bem estar da própria democracia moçambicana, este país precisa de alternâncias político-governativas garantidas por uma oposição forte, coerente, coesa e determinadada em relação ao que se tem hoje, de modo a não trair a confiança do povo. É nesta acepção em que o exercício democrático em Moçambique ainda se constitui numa miragem.

Friday, August 29, 2008

Quando o povo decide por si


Nas vésperas dos escrutínios eleitorais para as autarquias em Moçambique, notam-se situações que não dispensam comentários de esquina.
Na cidade de Maputo o actual edil, Eneas Comiche, perdeu as eleições internas do seu partido para as candidaturas dos próximos pleitos eleitorais. O facto sucede-se numa altura em que ia ganhando adeptos no seio dos munícipes pelos seus feitos na reconstrução da cidade há muito degradada. Algo similar ocorreu na cidade da Beira donde informações da imprensa indicam que Davis Simango – premiado melhor presidente dos municípios de Moçambique por uma revista de negócios sul africana - foi afastado das candidaturas por indicação do presidente do seu partido. Contrariamente ao que aconteceu na cidade de Maputo, os apoiantes de Davis Simango na cidade da Beira fizeram-se a rua para se manifestarem contra a decisão tomada pela liderança do maior partido da oposição neste país. Conforme refere a estação televisiva do grupo SOICO centenas de manifestantes protestaram, na manhã do dia 29 de Agosto, nas artérias daquela urbe impunhando dísticos que apelavam a recandidatura de Simango às eleições municipais. Este facto merece vários comentários.
Quer me parecer que o edil do município da Beira mais do que membro do partido da oposição, acabou conquistando adeptos que a pouco e pouco iam fazendo dele um líder quase que carismático. Uma liderança carismática goza de muita admiração e protecção entre os seus seguidores. Importa referir que o carisma não é algo inato mas sim, que se constroe no decurso da vida.
Em princípio o líder carismático quando passa desta para melhor, mais do que heroi ele torna-se numa figura lendária que sobrevive as gerações umas às outras. Podem-se encontrar líderes carismáticos em vários campos sociais como na Religião, na Política, Academia, Artes, etc.
O líder carismático é tido pelos seus seguidores como insubstituível; como se tivese nascido para estar no lugar em que se encontra. É também tido como o único que merece o lugar e a posição que ocupa. Raramente os seus actos são reprovados, mas nada obsta que deva fazer uma boa gestão do seu carisma para manté-lo eternamente.
A igual situação da Beira muito provavelmente haveriam manifestações em todo o país se o presidente Samora Machel fosse Substituído, enquanto vivo, por Chissano.
Como disse de início, muita coisa se pode especular sobre as manifestações que tiveram lugar na cidade da Beira. Trata-se de um caso que merece análises sob várias perspectivas, ademais é caso para dizer que enquanto uns choram os outros festejam tais acontecimentos.

Monday, July 14, 2008

Na nossa televisão: o parlamento em miniatura?


Existem muitas formas de ver o mundo que nos rodeia. Usando por exemplo óculos escuros, de lentes alaranjadas, azuis, verdes, castanhas, etc. podemos ver o mundo a nossa volta com uma coloração influenciada pelas lentes que usamos. Mas se pretendermos ver o mundo de forma natural ou seja com as cores reais mediante os nossos sentidos, somos obrigados a deixar de lado os nossos óculos. O mesmo acontece em relação a leitura e interpretação dos factos e fenómenos sociais.
Um dos mandamentos fundamentais das ciências sociais reza que antes de partirmos para a leitura e análise dos factos sociais devemo-nos despir das nossas prenoções. Estas últimas resultam muitas vezes das nossas influências político-partidárias, ideológicas, religiosas, etc. Aqui está o ABC das ciências sociais. Não se obedecendo a este mandamento podemos apenas emitir opiniões pessoais e tudo parecido a isso menos fazer ciências sociais, pois estas requerem de alguma forma certo rigor e neutralidade axiológica.
Dizer que nos devemos despir das cores ideológicas, político-partidárias, religiosas, afinidades étnicas, devoção à um clube de futebol, etc. não significa de modo algum que o ciêntista seja um extra-terrestre. Como qualquer ser humano inserido na sociedade, o cientista também tem as suas afinidades políticas, religiosas, e outras que fazem dele um cidadão comum. A diferença porém, nota-se pelo facto de um ter a atenção de separar o trigo do joio no momento certo. Aí começa o exercício da atitude científico-académica.
A STV (estação televisiva do grupo Soico) tem um interessante programa dominical que a princípio parece estar virado para a análise dos factos sociais de maneira académica. Mas na verdade o que se verifica é que a academia ou o simplesmente o termo académico é usado indiscriminadamente para ludibriar a atenção dos telespectadores. O que na verdade ocorre é que se discutem assuntos sociais na perspectiva política e não académica, mas como quase todo o mundo gosta de ser académico, já se justifica o mau uso deste termo – académico.
Tem-se verificado que no lugar de fazer leituras isentas de ideologias político-partidárias, o painel desata vezes sem conta, em ataques pessoais no lugar de discutir ideias. Isso disvirtua de alguma forma a expectativa dos telespectadores que esperando por uma coisas, são presenteados por outra.
Um painelista que se afirma “guerreiro e lutador pela causa causa do povo” não está de modo algum a mostrar uma postura académica antes sim política. Normalmente são os políticos quem se recorrem a esse discurso de luta pela causa do povo e não por interesses pessoais. Os políticos – que na sua maioria são grandes mentirosos -, dizem nos seus discursos que a sua preocupação é com relação ao bem estar do povo e não consigo próprio; por essa causa, dizem eles poderem-se fazer mártires pelo bem estar do povo – o que nem sempre corresponde a verdade . O académico desvia-se deste tipo de discurso não pelo desinteresse da causa do povo, pois a ciência visa acima de tudo produzir o conhecimento para o bem estar social das pessoas através da tecnologia, melhores políticas públicas, modelos políticos de governação e administração pública, etc.
No exemplo que demos sobre a STV, talvez o problema não esteja no painel em si, mas sim da própria instituição e os critérios por si usados na selecção das figuras a comporem tal painel. Quer nos parecer que o critério usado foi a cor política dos dois grandes partidos moçambicanos. No entanto foram seleccionados rostos; um publicamente comprometido com a RENAMO, um comprometido com a FRELIMO, e o outro aparentemente neutro mas que depois afirmou-se como simpatizante da FRELIMO. Este critério de formação do painel não parece mais apropriado para um debate académico, antes sim para uma discução sobre assuntos sociais numa perspectiva política, ao exemplo do acontece na Assembleia da República. O mal seria menor se logo de início ficasse claro para os telespectadores que o programa seria uma miniatura da Assembleia da República, mas a decepção surge quando usa-se a capa da academia para fazer politiquices. É talvez daí que começa a indignação daqueles que pautam pelos valores e postura de académicos.
Se a STV quiser corrigir o seu erro, ainda tem tempo para isso. Pode por um lado rescindir o contrato com o, ou os painelistas que disvirtuam os objectivos do programa, ou entao mostrar aos telespectadores que o enfoque do programa é trazer às telas uma miniatura do parlamento.
Em relação aos Partidos políticos, especialmente a FRELIMO fica-lhe a tarefa de rever os seus representantes ou porta-vozes. Indivíduos de compostura duvidosa, podem manchar à todo um partido, e de alguma forma influenciar-lhe nos escurtínios eleitorais. Em momentos em que a nossa análise é desaprofundada, pode-se ficar na dúvida sobre a posição pessoal de alguém, com valores e postura não comungada pela maioria das pessoas de bom senso, e a posição do Partido.
Tudo o que foi referido anteriormente baseou-se na reflexão em torno do debate dominical, ora aludido, da noite de 13/07/08. Foi na sequência dele que reiteramos a importância de se fazerem leituras sobre os factos sociais isentos de pré-noções, se quisermos pautar por uma postura académica.

Monday, May 19, 2008

Resistência a mudança no processo de desenvolvimento

As abordagens sobre o desenvolvimento apontam uma série de factores que estão na origem da pobreza ou então que afectam negativamente o crescimento de um determinado país. Dentre os vários elementos que desincentivam o desenvolvimento figura o aspecto cultural, significando neste caso, os usos e costumes; os hábitos; a forma de ser e de estar; modos de agir e de pensar, etc.
No nosso país temos muitos exemplos de aspectos culturais que muito provavelmente possam estar na origem do nosso lento desenvolvimento sócio-económico. O exemplo disso podemos encontrar no critério de escolha face as duas operadoras da telefonia móvel a operarem no país. Neste processo podemos optar por vias que nos ajudem a poupar, o que naturalmente conduz-nos a acumulação de capital, ou por vias que nos levam a disperdícios de recursos financeiros.
A questão que se coloca é: quais os motivos que ditam a opção por uma ou por outra operadora? Naturalmente que as respostas podem ser várias: desde o custo dos serviços; a qualidade; o hábito; até a resistência à mudanças; etc.
Quem opta por tarifas baixas de uma operadora pode no entanto ficar refém da má qualidade na prestação dos seus serviços, a não ser que se esteja perante um caso de custos muito baixos para serviços de alta qualidade. Por outro lado podemo-nos encontrar numa situação em que os custos são ligeiramente altos em relação ao primeiro caso, mas compensados com uma qualidade aceitável entre os consumidores dos serviços.
Imaginemos que a operadora com melhor qualidade nos serviços, ofereça uma promoção na qual os seus clientes podem-se comunicar entre si ao valor único de 500 Mt num período de dois meses. Uma promoção que permite falar 24h durante dois meses ao preço de 500 Mt, sendo o preço do pacote ou cartão inicial da operadora não superior a 4 Mt. Diríamos simplesmente que a oferta é tentadora embora os 500 meticais sejam um terço do salário mínimo nacional. Mas para aqueles que fazem chamadas telefónicas no valor de 100 Mt de 3 em 3 dias em média, podem com certeza achar a proposta tentadora. Mas o que acontece é que mesmo assim não se deixam levar pela tentação.
O que a experiência do dia-a-dia mostra é que dificilmente os clientes mudam de uma operadora para outra em busca de melhores serviços, do mesmo jeito que são muito raros os casos em que os clientes mudam-se em busca de melhores preços. Neste último caso nem as promoções contribuem efectivamente para a angariação dos clientes da operadora rival.
Se a justificação para a resistência à mudança é o hábito que se tem numa operadora, quer por outras palavras dizer que os consumidores preferem permanecer com os serviços de baixa qualidade e/ou preços altos porque estão habituados a isso, preferindo não se mudar. Num caso do género e específicamente da promoção de serviços, diríamos que abre-se mão da poupança pelo hábito que se tem em relação à operadora.
O sentimento de pertença a uma operadora de telefonia móvel corresponde de certa forma a identidade reivindicada pelos seus clientes. Estes últimos adoptam para si um sentimento de pertença que simultâneamente condiciona a sua identidade. Uma identidade que se pode comparar aos laços em relação ao local de nascença, ao bairro residencial, ao clube de futebol favorito, etc. É este sentimento que exerce uma pressão psicológica sobre os actores sociais, fazendo da sua operadora de telefonia móvel, a sua religião ou clube de futebol.
Não é pela derrota sofrida que se deixa de ser adepto do clube; não é por se rezar na garagem ou numa palhota que se abandona uma religião; do mesmo jeito que não é pelas estradas esburacadas que mudamos de bairro. O sentimento de pertença a um grupo ou espaço, inculca sobre os actores uma identidade que desenvolve um afecto por vezes não manifesto, e que por sua vez dificilmente condiciona o seu abandono.
A rejeição ou mudança de um traço identitário traz sobre os autores um sentimento de traição ou infidelidade ao seu grupo de pertença, o que pode resultar num sentimento de culpa, tristeza e/ou agonia.
No caso dos clientes das duas operadoras de telefonia móvel em Moçambique ocorre uma situação semelhante que por sua vez acaba numa resistência à mudança independentemente dos benefícios aludidos nas propagandas ou publicidades. Isso não significa porém que ninguém adira a mudança, mas em média os clientes preferem manter-se fiéis às suas operadoras. Ademais o que pode acontecer é que o cliente adopte uma posição de bigamia comercial fazendo uso paralelo dos serviços das duas operadoras. Por outro lado a operadora pode ganhar, pelo seu marketing, clientes fiéis que usam pela primeira vez na vida os serviços de telefonia móvel. Este é apenas um exemplo de resistência a mudança e para além dele existem tantos outros que poderiam por aqui desfilar.
Situações como as que foram anteriormente descritas perfilam nos modos de ser, de agir, e de pensar, alguns deles determinados por questões culturais, sociais, e até psicológicos, que contribuem negativamente para o desenvolvimento do país.
A resistência à mudança é comum entre os actores sociais, mas é preciso realçar que não é possível registar melhorias sem que antes aceitemos mudanças. O próprio desenvolvimento sócio-económico é algo que só se pode alcançar através de mudanças. Estas últimas podem ocorrer a vários níveis para além dos hábitos que ditam as nossas escolhas no mercado. Por fim, diriamos que ter medo de mudanças é o mesmo que rejeitar pacificamente o desenvolvimento.

Thursday, May 08, 2008

A Resposta ao HIV-SIDA: Da visão dos não infectados a visão dos infectados. Duas mãos que podem caminhar juntas para romper com a questão da tradição

Mais uma vez o Rildo delicia-nos com as suas reflexões sobre o dia-a-dia de Moçambique. Leia a sua análise sobre a questão do SIDA.


A fita vermelha é um símbolo da solidariedade pelas pessoas infectadas com o HIV e por aquelas que têm de viver com SIDA. A solidariedade com os infectados pelo HIV deve começar com o envolvimento destes na elaboração dos relatórios, documentos relativos ao HIV-SIDA, na partilha e auscultação de ideias e opiniões sobre a pandemia. Este envolvimento dos seropositivos em respostas relativas a pandemia deve ser adequada aos seus respectivos contextos.
Recentemente acaba de ser lançado o Relatório Nacional de Desenvolvimento Humano 2007 com o título Desafios e Oportunidades: A Resposta ao HIV e SIDA, um documento muito rico em informações sobre HIV-SIDA. Apesar disso o mesmo documento parece que tenta tratar o problema do HIV-SIDA de uma forma muito homogénea em relação ao território moçambicano.
Nota-se ao longo do relatório não haver nenhuma preocupação com o perfil sociológico dos infectados a nível da região, província e distrito. Há pouca informação em relação a estatística distrital sobre o HIV-SIDA. Esta situação tem levado que se perca de vista a localização do problema, pois se estaria a caminhar para um falso combate.
Verifica-se ainda um maior centralismo no aconselhamento do doente infectado em detrimento da família, médicos, enfermeiros, etç. O cometimento da família é essencial na maneira como a comunidade ira olhar para o doente infectado e também na maneira como o doente infectado pode estar aberto para falar do assunto sem receio de ser descriminado.
Um amigo meu seropositivo disse-me num belo dia que a sua família foi a primeira a estar do seu lado, hoje ele é uma pessoa aberta para falar do HIV-SIDA dizendo claramente que padece da doença e que as pessoas devem prevenir, o que mais me impressionou é realmente constatar que a família o trata como uma pessoa normal e as pessoas estão atentas a forma como a pessoa é tratada na família para dai tomarem um comportamento, hoje as pessoas tratam como uma pessoa normal sem descrimina-lo.
Este exemplo pode ser muito útil para o Ministro da Saúde, que sem apelos mandou “encerrar” ou “integrar” os Hospitais dias em todo país nos serviços nacionais de saúde, alegando que o mesmo fomentava a descriminação dos seropositivos, e também pelo facto de se pretender conferir o mesmo tratamento a todos os doentes. Acho que deveria-se antes de tudo consultar os próprios utentes do hospitais dias para percebermos se eles eles de facto sentiam que estavam a ser cada vez mais descriminados pelo facto de utilizarem esta unidade hospitalar ou ainda discutir com eles quais percepções os mesmos possuem da sua integração no SNS . Isto também pode significar envolvimento dos seropositivos no combate ao HIV-SIDA, para não cairmos unilateralmente na visão dos não infectados.
Acho precipitada a ideia de “encerramento” ou nova integração dos hospitais dias nos serviços nacionais de saúde, pois quem descrimina são as pessoas e não a infraestrura, isto significa que o que aconteceu foi simplesmente a transferência do problema para um outro local e não a sua solução. Pois os mesmos funcionários que trabalhavam nesses hospitais dias passarão para outro local, as pessoas continuarão com medo de fazer testes de HIV-SIDA nas suas cidades, por temerem serem revelados pelo pessoal de saúde da sua condição de seropositivo a outras pessoas sem o seu consentimento.
É preciso romper com a ideia de que só o doente é que precisa de aconselhamento, pois a experiência tem mostrado que o pessoal médico, enfermeiros, pessoal de aconselhamento nas ATS, hospitais dia (ora extinto) devem ser frequentemente aconselhados sobre o seu papel no combate a pandemia.
Tem sido muito avançado por peritos em matéria de HIV-SIDA sobre a responsabilidade das práticas tradicionais (medicina tradicional, ritos de iniciação, cerimonias tradicionais) em detrimento das práticas modernas. Tradição e modernidade, trata-se manifestamente de uma forma dualista de abordar os problemas do subdesenvolvimento e do desenvolvimento. Por agora interessa reflectir a conotação ideologica que adquiriu o conceito de prática tradicional.
O conceito de prática tradicional é contraposto a mutação, como se a própria tradição não tivesse sofrido um golpe,não tivesse experimentado uma mutação. As práticas tradicionais são encaradas como uma ordem distinta, uma entidade independente que se rivaliza a uma força contrária como um impedimento, em vez de entende-las como um processo dinamico.

Não se pode hoje conceber a tradição em Africa como uma realidade que se basta a si própria-há muito que esta realidade foi desordenada, não é já a ordem principal, nem a ordem motora. As práticas tradicionais não suportam a intromissão das ordens modernas. Os indivíduos já não se orientam no quadro das práticas tradicionais,mas pelo contrário também nas práticas modernas. Na maioria dos círculos academicos ainda se resiste a semelhante ideia de escapar as dificuldades de ter de analisar as praticas da modernidade efectivas da nossa sociedade.
Isto deve-se ao facto de ser confortavel tratar as práticas tradicionais como entidade que tende a transformar-se de acordo com as pretensões da modernidade. Devemos começar a desmistificar muitos aspectos da sociedade moderna ou das práticas da modernidade que aceitamos sem discussão, mostrando-nos até que ponto levamos connosco ideias de «natureza humana» e de «verdades evidentes» que perduram apenas porque foram incorporadas sem uma análise de um passado perdido, alem de serem bastante comodas para certos individuos nos nossos dias.
Comecemos a dar maior atenção as práticas modernas tanto nas cidades como nos pólos de desenvolvimento, colocar outros “pares de lentes” para podermos captar outras coisas (enxergar como se integram realidades bem modernas na problemática do HIV/SIDA, por exemplo no distrito de Massinga na província de Inhambane, para não cairmos num ciclo vicioso de ver a questão no âmbito da tradição. A realidade alerta-nos para revermos o aspecto do pessoal de risco!!

Tuesday, April 08, 2008

Um olhar em relação a musica moçambicana

Neste texto, Rildo Rafael procura reflectir sobre a música do nosso país contribuindo assim no debate inacabado sobre esta matéria.



“Curte o produto moçambicano” tem sido o slogan publicitário muito veiculado pela imprensa nacional, respondendo ao apelo do Ministro da Indústria e Comércio, com intuito de promover o produto nacional. Iremos neste breve artigo propor uma outra versão em relação ao que pretendemos abordar que seria “Curte a musica moçambicana”.

Não pretendemos discutir o que é ou não é musica moçambicana, pois achamos que o momento não é oportuno, se calhar emprestaremos a certas áreas alguns termos para uma discussão futura.

Falaríamos por exemplo de MNM (Musica nacional moçambicana),que tem a ver apenas com as musicas dos nacionais do país, independentemente da área geográfica em que se encontra e MIM (musica interna moçambicana), poderíamos referir a musicas de estilos nacionais feitas dentro das fronteiras do país, quer por músicos que sejam ou não nacionais.

Emprestamos tais designações da economia, dos termos PNB (Produto nacional bruto), que tem como referencia a nacionalidade e PIB (Produto interno bruto), que tem como referencia a dimensão geográfica, ou seja o território nacional.

Não é do nosso interesse muito menos fazer a discussão sobre o estilo musical que representa Moçambique (marrabenta? Utsi?, mapiko?, a lista é enorme), pois reconhecemos a diversidade cultural, etnolinguística e musical do país. Tem sido frequente ouvir nas conversas do dia a dia que a musica moçambicana vai de mal a pior ou que a juventude não gosta de musica moçambicana.

Nem constitui nossa intenção abordar sobre um falso problema entre a velha guarda e a nova geração, pensamos que podem caminhar de mãos dadas, pois acabam sendo todos da geração de Moçambique.

Temos constatado uma serie de adjectivos em torno da musica moçambicana, uns se referem como algo ultrapassado, um ruído, não tem “feeling”, algo para “matrecos”. Outros mostram-se reticentes em assistir um espectáculo ou comprar um disco de um musico moçambicano. Da parte de alguns músicos tem se constatado que estão constantemente a reclamar que as pessoas não compram os seus discos ou que os espectadores não acompanham devidamente os músicos nos espectáculos.

São concertos musicais as vezes sem público, músicos moçambicanos que poucas vezes são solicitados para actuar no estrangeiro, sem imaginarmos a dificuldade que os mesmos enfrentam para actuar internamente. Com a globalização achamos que este tipo de realidade como algo super normal para os países da periferia, mas a globalização não retira a faculdade e oportunidade de pensar em algo diferente para as nossas vidas.

Devemos reflectir bastante sobre a nossa situação de maneiras a projectarmos um futuro diferente e com isso evitarmos sermos reféns do processo global. A sociedade moçambicana esta a tender ser muito direccionada, onde o musico é o único interlocutor valido para falar sobre a musica, o desportista para o desporto até quem sabe se no futuro não iremos convidar alguns criminosos da praça para falarem unilateralmente sobre o crime!.

Pretendemos chamar atenção que o problema da musica não deixa de ser um problema abrangente. Será que não seremos capazes de reflectir sem evocar a palavra globalização como a parteira de vários problemas até se calhar dos discos piratas que andam por ai fora.

É chegado o momento de percebermos que algo não vai bem, antes de lançarmos as culpas para quem quer que seja devemos “socializar os nossos ouvidos”, ninguém nasce gostando de algo sem uma primeira experiência com a realidade.

Será que não há nenhum papel por parte do Estado para promover o “curte a musica moçambicana”, será que as rádios nacionais tentam resgatar ou veicular musicas moçambicanas (já agora das duas gerações); será que os DJ moçambicanos nas noites que proporcionam se apercebem da coisa. Será que é preciso educar os ouvidos dos moçambicanos e dos estrangeiros a curtirem a musica moçambicana.

Existe um ditado popular que diz o seguinte, “que é desde pequeno que se torce o pepino”, então qual o tamanho do nosso pepino. Será que há necessidade de um encontro regular entre o Ministério da Educação e Cultura e os DJs, músicos, apresentadores de rádios, televisão, a media, organizadores de espectáculos, etç. Muitos podem insurgir-se dizendo que estamos numa economia de mercado, por isso cada pessoa faz e vende o que quer, mas será que a economia de mercado significa a nula intervenção do Estado.

Com a televisão hoje se consegue encurtar a distancia com os acontecimentos de outros países, agora que se fala de mulheres transportadoras de drogas vamos pegar um pouco do Brasil, mas não é da droga que pretendemos referir.

Queremos fazer menção da audiência dos programas musicais televisivos e também da efervescência dos Brasileiros pela sua musica, algo que não acontece ao acaso, pois é fruto daquilo que chamamos de “educação dos ouvidos”, ou seja socializar as pessoas a apreciarem a musica de um determinado pais. Os mass media gozam um papel importante para a divulgação dos interesses nacionais.

Precisamos de dispor de instituições fortes capazes de proporcionar o “culto ao nacional”, para promovermos a musica nacional na relação frequente com os DJs, rádios, jornais, promotores de espectáculos, patrocinadores, editoras, etç.

A responsabilidade fundamenta o dever com a descendência, promovendo a continuidade da musica moçambicana a gerações futuras. Assim como as empresas transnacionais apregoam o consumo da marca “coca cola”, os Estados nacionais deveriam responder com o “curte a musica moçambicana”. Espero que não entendam que isso signifique trazer conflitos pessoais entre os músicos para a musica e nem muito menos criar escalões típicos do futebol para os nossos músicos. Talvez temos que colocar “Moçambique em concerto!”



Rildo Rafael

Tuesday, March 25, 2008

Uma visão geral sobre a pobreza rural integrada


As desigualdades sociais são sempre alvo de críticas morais e éticas em quase todas as sociedades pelo facto de exercerem uma pressão psicológica sobre as suas vítimas.
Há quem pense que as desigualdades sociais são apenas vividas nos centros urbanos, o que não corresponde a verdade pois a estratificação social atravessa todos os aglomerados populacionais; desde as pequenas comunidades às socieades mais amplas territorialmente. Através deste texto pretende-se fazer uma leitura crítica sobre a obra intitulada Desenvolvimento Rural – Fazer dos últimos os primeiros da autoria de Robert Chambers[1].

Robert Chambers estuda a relação entre dois estratos sociais, levando-nos a compreender o que gira em torno das desigualdades sociais no meio rural. Para tal serve-se de alguns estudos de caso feitos em vários países pobres da América Latina, Ásia, África e em alguns casos vai à Europa buscar exemplos vividos nas zonas rurais da Itália.
No seu ponto de partida Chambers refere que existe um grande distanciamento entre os pobres e os ricos, que contribui para que estes dois não se conheçam efectivamente. Sendo assim realça que os ricos desenvolveram uma visão muito errada sobre os pobres servindo-se disso para rotulá-los com vários atributos pejorativos.
Vários exemplos apontados indicam que em vários cantos do mundo os ricos consideram que a condição social dos seus opostos deve-se a preguiça. Em outras culturas como a indiana, os ricos acreditam que o nosso presente é resultado dos pecados ou das boas obras efectuadas em vidas passadas, e que como consequência disso podemos ser recompensados nascendo numa família abastada ou então nascendo numa outra que nos dê como herança a pobreza.
Um exercício interessante feito por Chambers foi tentar mostrar e convencer aos seus leitores que os pobres não são pobres porque não gostam trabalhar tal como os ricos pensam. Busca para isso vários exemplos retirados de estudos de caso feitos às comunidades rurais.
[...]”Joan Mencher aponta ter entrevistado grupos de mulheres que trabalhavam no campo sob uma chuva torrencial e que disseram não fazer ideia de quanto lhes iriam pagar pelo seu dia de trabalho, mas que não tinham outra alternativa senão trabalhar”. (Chambers, 1995, p145)
Um dos factores que segundo o autor contribui para o recrudescer da pobreza é o seu círculo vicioso. Segundo ele, o pobre não tem como sair dessa condição social porque vê-se influenciado por vários outros factores que lhe aprisionam tais como a impotência, vulnerabilidade, fraqueza física, isolamento, e a própria pobreza. Estes fctores todos estão interligados enre si fazendo-se assim um círculo vicioso da pobreza, na medida em todos eles conspiram a favor desta.
A pobreza no seu entender deve ser vista do ponto de vista das propriedades ou posses como por exemplo a falta de bens materiais, afluxo de comida, dinheiro, etc.
O tema que dá título ao seu livro tem uma componente que merece especial atenção: “Fazer dos últimos os primeiros”. Estes dizeres remetem-nos para uma ideia segundo a qual o livro foi escrito com a intenção de agir sobre um determinado aspecto que caracteriza as zonas rurais. Estamos a falar da exploração dos mais abastados sobre os menos avantajados. Movido por interesses ético-morais o autor afirma (e fazendo alusão as suas crenças religiosas), que pretende mudar a órdem social vivida no meio rural.
Diz o autor que “as grandes religiões incitam à caridade; “Cristo disse ‘os últimos serão os primeiros”. O autor serve-se desta citação como alavanca para impulsionar mudanças sociais sobretudo motivado por valores religiosos que de vez em quando mostra citando passagens bíblicas como por exemplo o Livro de S. Mateus (Chambers, 1995, 141). É notória a sua abertura em relação a demostração das suas crenças religiosas.
Até certo ponto não constitui problema algum que um cientista professe alguma religião, porque antes de mais ele é um actor social inserido num determinado espaço social comungando dos seus valores. O problema começa quando não nos distanciamos de tais valores no momento em que nos posicionamos para fazer estudos ou pesquisas científicas na área das ciências sociais.
O trabalho de Chambers tem grande mérito por trazer a tona vários aspectos relacionados com a pobreza no meio rural, e permite com que os seus leitores tenham uma compreensão plausível sobre esse facto. Mas por ouro lado ele peca pela visão extremista direcionada apenas à dois polos (ricos e pobres) nos quais os primeiros têm um total desconhecimento sobre a realidade vivida pelos outros devido à distância entre ambos. Tal situação faz com que os ricos olhem para a pobreza como resultado da preguiça, idiotismo, predestinação ou até a maldição dos deuses.
Ao analisar a questão nos termos supracitados, Chambers não menciona a questão do neoriquismo (Conceito usado por Wright Mills, 1959)[2], ou seja; esquece-se de mostrar-nos qual é o entendimento dos novos-ricos sobre a pobreza. Falamos dos novos-ricos aos que um dia foram pobres e por algum motivo deixaram de sê-lo. Trazendo-nos a visão que este estrato social tem sobre os pobres, teriamos a opurtunidade de concordar ou não com a sua tese.
Na ausência da análise ora referida, fica uma penumbra que nos impede compreender se todos os ricos (os que disfrutam da riqueza desde a nascença e os novos-ricos) têm uma visão errada sobre o que condiciona a pobreza ou não.
Muito provavelmente a atitude de Chambers tenha sido intencional, porque como vimos ele direciona o Seu estudo para uma acção sobre o seu objecto de estudo, atitude esta que é deplorada em sociólogia e outras ciências sociais (Berger,P. 1980; Serra, C. 1997)[3]. Sendo assim, provavelmente o autor tenha recorrido a esta via de análise simplista na espectativa de chamar maior atenção aos leitores sobre as manifestações de poder que os ricos exercem sobre os pobres nas zonas rurais fazendo com que estes últimos permaneçam na sua condição social eternamente.
Na sua explicação sobre as causas da pobreza, diz o autor que se deve a um círculo vicioso no qual o pobre está eternamente condenado. Segundo ele o pobre encontra-se distante da Vila ou povoado com melhores condições de vida, impedindo-lhe de participar activamente nas discuções públicas que lhe ajudariam a melhorar o nível de vida. Não tem acesso a educação, é fisicamente debilitado, vulnerável às doenças e calamidades naturais, se contrai uma dívida para compromissos sociais como o casamento, ou despesas com o funeral corre o risco de se empobrecer cada vez mais, etc. Várias outras circunstâncias concorrem para que o pobre nunca saia dessa condição social. Deste ponto de vista o que Chambers faz é legitimar a ideia errada por si identintificada (logo de início) segundo a qual a pobreza era predestinada às pessoas e em certos casos tem a ver com a expiação dos pecados cometidos em vidas passadas. Simultaneamente o autor recusa-se admitir a mobilidade vertical ascendente conceito desenvolvido na sociologia que estuda as desigualdades socias. O autor tem uma visão estática dos estratos sociais, o facto pode estar associado a ideia de forçar os resultados da sua pesquisa de modo a ajustarem-se na sua teoria desenhada com fins intervencionistas.

Quer em sociologia quer nas restantes ciências socias, é fundamental que nos distanciemos das nossas prenoções e valores, se quisermos compreender devidamente a realidade que nos circunda. O estudo de Robert Chambers embora de muito mérito, é um exemplo de como a pesquisa pode ser viciada se direccionarmo-la no intuito de aplicarmos os seus resultados para um fim específico delimitado pelo cientista.
[1] Chambers, Robert (1995) Desenvolvimento Rural – Fazer dos últimos os primeiros, Luanda, ADRA (p114-148)

[2] Mills, C. Wright. 1951 [1956] White Collar: The American Middle Classes, New York: Oxford University Press.

[3] Berger, P. (1980) Perspectivas sociolóicas – Uma visão Humanística, Petrópolis, Editora Vozes
Serra, C. (1997) Combates pela mentalidade sociológica, Maputo, Livraria Universitária

Saturday, March 15, 2008

Mais mexidas no Governo de Armando Guebuza

Quero patilhar, com todos os interessados, o guião de perguntas desenhado para orientar um debate radiofónico na capital moçambicana.

Na segunda-feira (10/03/08) fomos mais uma vez deleitados por uma noticia sobre mexidas no Governo de Armando Guebuza. Não sendo novidade para ninguém resta-nos apenas esperar pelos comentários que se possam fazer em torno disso. Mas antes de tudo é preciso termos em conta que não existe um modelo expecífico de Governação, sendo assim, cada um é livre de Governar como achar melhor desde que não ponha em causa os interesses nacionais e patrióticos.
Uma das diferenças marcantes entre o Governo de Chissano e de Guebuza é que no primeiro apostou-se provavelmente em dirigentes vitalícios e no segundo quebrou-se com esta regra. Numa entrevista concedida ao programa televisivo Com a Imprensa (passado na TVM), Guebuza afirmou que compara a sua Governação a uma partida de futebol onde o treinador vai substituindo os seus jogadores em função das circunstâncias do momento. Sendo assim fica mais claro ainda que no modelo de governação do actual chefe de Estado não há espaço para cargos vitalícios.

Questões para Debate:
· Que comentários faz sobre as actuais mexidas no Governo?
· Consegue compreender algum critério usado para as exonerações e nomeações dos ministros, magistrados e outros dirigentes?
· Em termos de Ministérios que sofreram comentários negativos em relação ao seu desempenho constam o da Defesa, do Interior, e talvés o da Saúde embora este último divida opiniões. O que existe de comum nestes ministérios é que os seus responsáveis não foram mexidos apesar de contribuirem negativamente para a opinião pública.
. Quer tentar explicar as razões disso?
· Um jornalista do ex- Embondeiro disse para uma estação televisiva que haviam certos ministros que não mostravam trabalho algum uma vez que raras vezes eram vistos na midia. Na sua opinião tais ministros deveriam ser exonerados para darem lugar aos que trabalham e mostram trabalho. Alguns dos Ministérios visados foram o das Pescas e o da Mulher.
. Acha que o desempenho de um ministro e do seu elenco mede-se pelo número de aparições públicas através dos órgãos de comunicação social?
. Aparecer muitas vezes na media é sinónimo de boa prestação de serviços, de muito empenho e dedicação no trabalho?
. Através da imprensa os governantes podem cultivar o impressionismo no lugar de trabalharem efectivamente. Que é que acha sobre isso?
. Quando governador, Felicio Zacarias já foi muito aclamado pelo povo. Actualmente como ministro talvés a situação tenha mudado. Não será consequência de avaliar a competência pelo número de aparições na media?
. Acha que os melhores resultados na governação poderão ser alcaçados com a substituição constante dos ministros?
· Há quem diga que a imprensa é o Terceiro Poder. Consegue encontrar alguma influência que a imprensa exerceu para a exoneração de alguns dirigentes do Governo de Guebuza?
· Se lhe pedissem opinião sobre a pessoa à conduzir para o cargo de Mistra da Justiça; à quem votaria entre a Benvinda Leví e Isabel Rupia? Porquê?
· É muito bom estimular aos que trabalham e mostram vontade de o fazer. Mas é preciso ver como estimula-los de modo a não desestruturar o sistema. Não parece mau dizer que Paulo Zucula cresceu no INGC. Sendo assim, a sua retirada para um outro sector por competência que terá mostrado, não acha que poderá criar uma grande lacuna no INGC?

Sunday, March 02, 2008

Em busca da fórmula mágica para o Desenvolvimento de Moçambique

Todos nós gostariamos de um dia ter descoberto a fórmula mágica para desenvolvermos o nosso país, no entanto há pensadores que não se cansam de fazer exercícios mentais com vista a tornarem-se heróis nesse âmbito. Uma atitude plausível se pusermos os interesses nacionalistas acima de tudo.
No passado sábado (01/03/08) Elísio Macamo publicou um texto interessante no jornal Notícias do qual é colaborador. Como de sempre, mais uma vez trouxe-nos análises interessantes de nos deixarem com o queixo caído. O exercício analítico que fez no seu texto não se difere de tantos outros com os quais nos tem deleitado. Ele procura-nos convencer, pelos seus argumentos, fazendo um exercício copernicano.
Discutindo sobre a corrupção e os seus efeitos para o desenvolvimento do país, Macamo diz existir uma farsa político-governamental que cria bodes expiatórios para encobrir a incompetência dos dirigentes do país. Segundo ele, esta farsa vem desde os primeiros anos do pós-independência. Nessa altura a Frelimo encobriu a sua incompetência no fracasso do seu projecto revolucionário jogando a culpa em inocentes, inventando a figura do xiconhoca, dos preguiçosos, dos contra-revolucionários, etc. Continuando com este raciocínio prossegue dizendo que ainda hoje a farsa prevalece apenas mudando de alvo. Desta vez o bode expiatório é a figura do corrupto que foi inventada, pelos moçambicanos incompetentes, de modo a constituir o novo cúmplice pelo subdesenvolvimento do país. Em breves palavras é esta a ideia do texto em referência.
Doutro modo, o texto quer mostrar de forma extremista, que o subdesenvolvimento do nosso país não tem nada a ver com os corruptos, os bandidos armados, os xiconhocas, os contra-revolucionários, as prostitutas e os improdutivos que eram enviados aos centros de reeducação e/ou zonas verdes. A síntese do texto indica que o subdesenvolvimento é resultado da incompetência dos moçambicanos, em particular dos que dirigem o país. Até aqui tudo bem. Uma grande análise mas que deixa muito a desejar.
As questões que coloco são as seguintes: Estaremos mesmo num país sem corruptos onde estes são uma invenção daqueles que querem ocultar a sua incompetência jogando-nos a poeira aos olhos? Caso a resposta seja negativa, será que a corrupção em nada contribui para o subdesenvolvimento de Moçambique? Será mesmo que os preguiçosos, vadios, bandidos armados, os contra-revolucionários em nada contribuiram para o subdesenvolvimento do país? E já agora, acho que precisamos encontrar alguma análise conceptual sobre a incompetência e corrupção. Que significa uma e outra coisa?
Reconheço que nenhum procurador geral conseguiu nos mostrar a cara de um corrupto sequer, embora tenham afirmado, publicamente, existirem corruptos e pessoas intocáveis em Moçambique, mas receio muito que isso seja sinónimo de não existirem tais indivíduos.
É verdade que existem muitos governantes e cidadãos incompetentes, mas isso não significa que para além da sua incompetência não hajam outros factores determinantes para o nosso desenvolvimento ou subdesenvolvimento, dos quais a corrupção faz parte. Se concordarem comigo direi que existe ainda um longo caminho a percorrer para o alcance da fórmula mágica do Desenvolvimento.

Wednesday, February 06, 2008

Crise de argumentação e dissonância cognitiva

É interessante a maneira como certas pessoas conseguem gerir relações sociais com outras de temperamentos diversificados. Existem várias fórmulas para tal, mas o importante é usar os caminhos menos sinuosos de modo a não desistirmos do desafio de mantermo-nos em harmonia com os nossos próximos.
Quando se troca de impressões sobre qualquer mantéria, seja ela de caráceter político, religioso, familiar, profissional, cultural, etc. podemos verificar duas situações a destacar. Em primeiro lugar temos um cenário no qual vigoram negociações através das quais cada um dos intervenientes faz se valer pelos seus argumentos para fazer valer as suas convicções ou ideias. Neste processo de negociação, o lema consinste em trazer argumentos mais plausíveis possível para convencer aos outros a aceitar e concordarem com o ponto de vista ou ideia a ser partilhada. Neste caso vertente, os negociadores podem terminar com a troca de impressões convencidos que estavam errados pensando de uma ou de outra maneira e simultaneamente assimilando uma nova perspectiva de encarar a realidade que foi alvo de discução. Isso passa pela forma como ambos concordam em fazer uso da capacidade argumentativa para trocarem de impressões.
Em segundo lugar temos um outro cenário de troca de impressões no qual está ausente a negociação, sendo esta substituida pela imposição dos ideais ou convicções. Normalmente esta fase segue-se a falta de argumentação suficiente para fazer valer o nosso ponto de vista durante a troca de impressões. Nesta fase vive-se um cenário em que impera a dissonância cognitiva. Este conceito introduzido por Leon Festinger, um psicólogo por excelência, explica que a ausência da consonância cognitiva da lugar a dissonância cognitiva. Por outras palavras isto significa que o indivíduo esterioriza comportamentos resultantes de um conflito psicológico de duas ideias contraditórias. Por exemplo o indivíduo pode reconhecer que o seu argumento não é válido para o caso em questão, mas desenvolver uma atitude que oculta tal reconhecimento. Em situações do género é comum insistir na ideia errada impondo-a a todo o custo.
Quando os argumentos esgotam-se no processo negocial da troca de impressões, a única forma para fazer valer as nossas ideias é através da imposição. Na limitação de fazé-lo com recurso a violência física, o actor padecente da dissonância cognitiva pode fazer recurso a elevação do tom das suas palavras e em certos casos fazer recurso a expressões carregadas de tonalidades violentas. A ideia por detrás desta acção é simplesmente impôr as suas convicções e ideias, pela tonalidade agressiva usada durante a troca de impressões. Mas é importante notar que isto acontece como resultado da escacez de argumentos necessários para negociar no sentido de fazer valer as nossas convicções.
A dissonância cognitiva muitas vezes resulta de constrangimentos sociais nos quais os actores sociais se encontram. Outrossim ela serve de um atídoto social no sentido de mitigar os efeitos do constrangimento sofrido pelo indivíduo. Por exemplo numa relação entre Docente e discente, em que este último discorda com a explicação dada pelo outro - pouco informado - sobre a matéria, pode dispoletar no Docente uma crise de dissonância cognitiva. Constrangido pela situação em que o discente convenceu-lhe do seu erro recorrendo a uma argumentação plausível o docente pode desenvovler uma atitude meio violenta na sua expressividade como forma de fazer valer a sua autoridade na sala de aulas. Reconhecendo estar errado o docente recusa-se a esteriorizar tal sentimento, preferindo impor o seu posicionamento fazendo recurso a violência das palavras pela tonalidade com que as imprega durante a troca de impressões. O que está em causa é a sua autoridade de docente. Neste caso a dissonância congnitiva é para ele um meio para se livrar do constrangimento a que se encontra submerso. No lugar desta díade – Docente versus discente – poderiamos buscar muitos outros exemplos nos quais ocorrem cenários identicos. Estamos a falar da relação entre pais e filhos, os Casais, relações de amizade, vizinhança, chefe e subordinado, entre outras.
Uma troca de impressões harmoniosa caracteriza-se pela sincronização do enfoque a ser discutido. Por outras palavras, ambos os intervenientes têm a consciência de estarem a discutir a mesma temática usando apenas argumentos diferentes um do outro com vista a atingir um fim – convencer ao interlocutor a concordar com o seu ponto de vista. A desarmonia surge porém com o irromper da dissonância cognitiva num dos interlocutores. Dependendo da forma como ela se manifesta, pode de algum modo desviar o enfoque ora abordado, para um outro radicalmente diferente do primeiro. Nesse caso a desarmonia na troca de impressões ocorre quando os intervenientes deixam de focar sobre a mesma temática, ou simplesmente quando ambos desviam-se desta para uma outra, na qual se distanciam da argumentação para atingir o fim visado.
Conforme deixamos transparecer logo de início, constitui um grande desafio gerir uma troca de impressões de forma armoniosa perante um surto de dissonância cognitiva. O importante neste caso é saber identificar o cenário; posto isto cabe a cada um fazer uso dos seus valores (ético-morais) para dar prosseguimento a interação com a outra parte alimentando ou desencorajando o conflito. É da maneira como gerimos estes momentos que surge a personalidade com a qual seremos identificados no dia-após-dia.