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Achei interessante os textos do Mia Couto e do Patrício Langa ao versarem sobre África e a relação que se pode estabelecer com os EUA.
Num estilo característico Mia escreveu sobre os problemas sócio-políticos e económicos africanos, tendo com isso chamado os cidadãos africanos a reflectirem sobre a possibilidade de empreenderem mudanças rumo ao futuro que todos almejam. Por sua vez Patrício Langa – um dos poucos sociólogos lúcidos da praça – contrapós-se ao raçocínio de Mia pelo facto deste não ter explicado as razões por detrás dos inúmeros problemas estruturais e conjunturais que assolam os países africanos. Por outro lado a inquietação de Patrício vai para a aberrante comparação feita entre o chá e o l
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Lamento não poder entrar em detalhes sobre os conteúdos dos textos ou reflexões dos actores supra-indicados. Não obstante presumo que será relativamente difícil para quem não os leu poder compreender o assunto que pretendo aqui abordar.
Ora bem, o que me parece é que estamos perante dois actores de perspectivas diferentes olhando para um mesmo objecto de análise. Perante um mesmo fenómeno social é natural que se façam leituras diversificadas dependendo da perspectiva com que o observador se identifica. O antropólogo, o historiador, o escritor, o humorista, o sociólogo, etc. que têm por objecto de análise o social, estão sujeitos a visões diferentes sobre o seu objecto. No entanto seria demais exigir-se ao humorista uma leitura do social na perspectiva economicista.
O que interessa ao escritor no retrato da sociedade talvés não seja responder o porquê das coisas. Pode por exemplo constituir a sua preocupação convidar com muita mestria aos seus leitores a reflectirem sobre determidado assunto que lhes passava despercebido. Este trabalho é, no entanto, feito na base da criatividade artística associada a estética e outros valores da arte literária. Nesse campo Mia é mestre, razão pela qual tornou-se referência nacional e internacional. Apesar do seu mér
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Nem sempre o porquê é a melhor resposta. Não acho que Mia tenha cometido algum pecado por não responder ao porquê. As respostas descritivas que respondem ao como também são uma forma interessante de olhar para o social e chamar aos actores sociais a auto-reflexão.
De uma forma geral toda a análise social depende dos objectivos que o autor incorpora no momento do seu labor. Tenho as minhas dúvidas em relação ao facto de Mia querer fazer o papel de sociólogo na leitura do fenómeno Obama. Provavelmente este escritor nunca se quis furtar da sua arte para violar o espaço dos sociólogos.
Concordo plenamente com Patrício em relação a necessidade de se explicar o porquê dos factos para a sua melhor compreenão. Mas também discordo que isso seja um imperativo categórico para qualquer leitura que se pretenda fazer sobre o social. Ademais quer me parecer que para responder ao porquê, é necessário que se faça alguma pesquisa de modo a evitar expeculações. Penso que Mia Couto não se muniu de ferramentas que os sociólogos usam para compreender a sociedade antes de escrever o seu texto intitulado: “Se Obama fosse africano”. E isso aconteceu provavelmente porque ele não quis fazer o papel de sociólogo, antes sim, um escritor igual a si mesmo.
Cada campo do saber tem uma forma peculiar de encarar o seu objecto de estudo no entanto nenhum deles se deve considerar melhor que o outro. Criar uma hierarquia ou estratificação dentro das ciências sociais e humanas tanto como no campo das artes, seria uma tarefa condenada ao fracasso pois o social é complexo.
Até hoje Leonard
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O caso Obama merece sim alguma reflexão em torno das condições para uma democracia efectiva em África, por outro lado pode-nos ajudar a reflectir sobre o âmago dos problema sócio-políticos vividos no continente africano.
Em suma gostaria de reiterar que existem várias formas de ler os fenómenos sociais, dependendo do campo disciplinar em que o observador se encontra. É importante notar que a tendência de hierarquizar os demais campos do saber – e muito particularmente no ramo das ciências sociais e humanas; arte literária, artes plásticas, artes cénicas, etc. – pode-se constituir num perigo para o processo de construção do conhecimento.
2 comments:
Caro Book.
Obrigado pelo texto crítico que fazes a minha réplica ao Mia Couto.
Ahh, obrigado pelo “ é dos poucos sociólogos lúcidos”.
Assim, me sinto na tua companhia. Acho, no entanto, não representaste correctamente o meu argumento a partir do qual teces a tua crítica. Essa má representação tornou, no meu entender, a tua crítica deslocada do contexto do debate. Explico isto de forma mais eleborado no meu blog. Se e quando puderes passe por lá.
Aquele abraço.
Sociologo...lucido? Valha deus!!!Que desgraca a nossa!
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