Friday, November 14, 2008

Barack Obama e o messianismo americano

Muitos movimentos messiânicos surgem nos períodos de grandes crises sócio – políticas, sendo o prato forte o anúncio do fim de uma era e o começo de uma outra melhor. Isso não se difere tanto do quem vem acontecendo nos EUA com Barack Obama - o messias que se espera poder mudar os destinos daquele país transformando-lhe na Terra Prometida.
“Barack” em árabe significa o abençoado. Se quisessemos ir pelo lado metafísico talvez seríamos obrigados a dizer que a bênção de Obama foi profetizada aquando do seu nascimento e reside fundamentalmente na árdua missão de tirar o seu país do caos.
A bênção de Obama vem pelo facto de levar nas costas a responsabilidade de provar ao mundo inteiro que a competência técnica, política, e de qualquer outra natureza não tem nada a ver com a cor da pele. Vários argumentos antropológicos, médicos, etc. de natureza racista tentaram vezes sem conta criar uma estratificação social baseada na cor. Mesmo em sociedades mais cultas como a França é escusado dizer-se que não hajam resquícios de racismo.
Alguém disse que a tomada de poder por Obama significa o fim da supremacia WASP, mas é meio suspeito fazer esse tipo de pronunciamentos porque isso significaria por outras palavras retornar aos discursos racistas e em última análise dizer que ele foi eleito somente pelos negros o que não constitui a verdade.
A vitória de Barack Obama pode sim significar a mudança de mentalidade dos americanos e do mundo inteiro passando-se para uma nova fase da história da humanidade em que se olha pelas diferenças da cor da pele não como factor de estereótipo ou supremacia de uns sobre os outros, mas simplesmente como diferença. Quarta e quinta feiras são apenas dois dias de semana diferentes quanto o preto é diferente do branco, portanto sem motivos para hierarquizá-los.
É importante lembrar que a mudança de mentalidade dá-se num longo processo de transformações sociais ocorridas na escala Global onde Kofi Annan contribuiu pelo trabalho plausível que prestou às Nações Unidas na qualidade de secretário geral. Durante o seu mandato não faltaram cépticos para questionarem e duvidarem das capacidades intelectuais de um africano –de raça negra – na gestão das Nações Unidas. Bastava um pequeno deslize para conotarem as incongruências pessoais à incapacidade de todas as pessoas da sua cor. É o mesmo desafio que Obama enfrenta neste momento, e para tal é importante que siga o exemplo de outros negros como William Dubois, Marcus Garvey, Martim Luther king Jr., entre outros, que no decurso da sua vida passaram por vários desafios num mundo em que os preconceitos raciais eram enormes.
Quando Bush assumiu o poder, em 2001, herdou um superávit de US$ 651 bilhões, mas vai deixar o orçamento com déficit recorde de US$ 438 bilhões, sem levar em consideração o pacote de US$ 700 bilhões. Obama considera que reformas de longo alcance serão necessárias para proteger cidadãos e empresas americanos. Obama deixa claro que a estrutura fiscal precisa ser modificada para se tornar mais justa. Isso significa que os ricos terão de pagar mais[1]. Esta medida pode ser plausível mas é importante que haja muita prudência e distanciamento em relação ao nível emocional do novo presidente dos EUA.
Se Bush vetou contra o financiamento das pesquisas em torno das células-tronco pode ser sinal de gestão racional de recursos o que não deve ser visto como desinteresse em relação ao avanço da medicina. Porém Obama promete reverter a situação financiando pesquisas das companhias de células-tronco. Este posicionamento surge numa altura em que os EUA precisam de se recuperar da crise financeira que se estima poder ser pior que a de Roosevelt.
De messias, Barack Obama pode se transformar numa grande decepção para todos os que apostaram nele na expectativa de contribuir para as mudanças em favor da nova ordem mundial. Não se pretende porém afirmar que o sucesso da sua governação dará fim aos preconceitos raciais, antes sim que tal pode contribuir para a mitigação paulatina dos mesmos.
As mudanças sociais ocorrem infelizmente num processo lento comparativamente as outras mudanças. No entanto o fenómeno Obama suscita várias leituras; mas neste caso particular diremos que simboliza acima de tudo uma grande mobilidade social do povo afro-americano: da Senzala para a Casa Grande; do Getho para a Casa Branca; e finalmente da White House para a Black House.
[1] http://www.estadao.com.br/interatividade/Multimidia/ShowEspeciais!destaque.action?destaque.idEspeciais=849

1 comment:

Anonymous said...

Dica de leitura...Textos ácidos e sarcásticos, pra quem quer ficar por dentro dos assuntos políticos e dos últimos acontecimentos de forma leve.


www.mosaicodelama.blogspot.com

Boa leitura!


* This blog can be translated to any language*