O Calçadão de Maputo fica situado junto à praia da Miramar, mais ou menos, no troço da Av. Marginal que abrange quase toda a zona do Centro de Conferências Joaquim Chissano até ao famoso Coconuts. É um local interessante pela forma como se aprensenta e pela maneira como os citadinos fazem uso dele. O nome surge provavelmente pela imitação ao calçadão brasileiro que suponho ser muito diferente do moçambicano.
Frequentam aquele local gente de quase todas as faixas etárias e de ambos os sexos; cidadãos de diferentes estratos sociais; diferentes grupos étnicos, cores partidárias, etc. No calçadão cruzam-se patrões e empregadas domésticas; chefes e subordinados; vizinhos, e varias outras díades.
Numa observação minuciosa pode-se perceber que cada categoria social que frequenta o local tem interesses distintos. Uns vão simplesmente para contemplar o ambiente e a festa do momento; os outros vão para se exibirem de qualquer coisa que tenham como trunfo na manga; alguns vão para se embriagar da cerveja que por lá abunda, e os outros ainda vão com o intuito de produzir receitas para o seu auto-sustento.
Jovens de tronco nu exibem no calcadão os músculos fabricados pela fisicultura praticada nos ginasiuns da praça; os patricinhos exibem descaradamente viaturas luxuosas aproveitando-se da ocasião para porem o som da música ao volume mais alto possivel como forma de mostrar que são os eleitos da terra. As raparigas não se fazem para trás. De roupas sensuais e noutros casos quase semi-nuas exibem tudo o que têm de bom e de melhor tornando-se desfrutáveis depois do txiling.
Os outros aproveitam o momento para vender a sua mercadoria; desde a magumba e o frango grelhados com xima, batata frita e salada, o álcool, estupefacientes; e as mais desinibidas não perdem a ocasião para se prostituirem. O que têm em comum é o sentido oportunista que lhes leva a tirarem proveito do momento para produzirem receitas para o auto-sustento.
Alguns dos que vão em busca da embriaguês chegam a passar cerca de dois dias seguidos sem se quer regressarem a casa; pois as condições lhes são favoraveis. Comem e bebem; quando cansados dormem no interior do seu Nissan Patrol ou Jeep Cherokee; quando necessitam de banho mergulham nas águas sujas da Baia de Maputo; quando sentem necessidades fisiologicas não se importam do urinorio e fecalismo a ceu aberto, e assim em diante.
As regras não são muito bem claras no calcadão. Cada um estaciona a sua viatura onde e como bem lhe apetecer; nem que para isso os outros vejam o seu acesso à estrada bloqueado por outra viatura. Quando isso acontece em outros locais da cidade de Maputo, a policia camarária não perde a oportunidade para rebocar e multar a viatura mal estacionada. Em contrapartida no calçadão nenhuma viatura é rebocada por mau estacionamento. Nenhum automobilista é sancionado por condução em estado de embriagues embora haja no local um desfile de agentes da PRM e da polícia camarária. Os primeiros fazem um autêntico desfile exibicionista, numa tentativa de demonstração de forças. Munidos de coletes a prova de balas, empunhando armas do tipo AK 47 e com um olhar rude, os agentes da PRM circulam em viaturas típicas tentando convencer aos seus espectadores que estão a patrulhar a área em prol da ordem e tranquilidade públicas.
Como deixei transparecer antes, no calçadão não há sanitários públicos, não há latas de lixo todavia é um dos locais que mais resíduos sólidos produz e mais se urina em locais impróprios devido o efeito do álcool.
Sufocados pelas necessidades fisiológicas, rapazes e raparigas disputam o espaço que separa a viatura estacionada do capim ou muro para se livrarem dos seus excrementos. Não há pudor naquele local, quer entre os homens quer entre as mulheres, pois as condições existentes assim o favorecem.
O calçadão tem uma mensagem muito interessante. Esse espaço transmite a essência da mocambicanidade que se esconde por detrás dos fatos e gravatas dos dirigentes deste pais.
As barracas que pululam no local operam sob o licenciamento das autoridades municipais tanto quanto governamentais – Ministério da Indústria e Comércio. Tais autoridades têm a noção da falta de sanitários públicos nos locais onde elas operam, no entanto pouco ou nada mesmo é feito de modo a reverter-se o cenário.
A condução em estado de embriagues é penalizada em outros locais de Moçambique com a excepção do calcadão. Só um azarado é que pode ser penalizado, no sítio, por conduzir sob efeitos do álcool. O estacionamento desordenado não implica nenhum sancionamento por parte das autoridades municipais e/ou governamentais naquele local embora elas tenham o conhecimento do caos que ali se vive.
Os activistas das instituições que trabalham no combate ao HIV/SIDA têm conhecimento do comportamentos de risco que se vive no calçadão o que pode aumentar os índices de infecção por esta pandemia, mas ninguém toma alguma medida para controlar o cenário.
No calçadão há roubo de telemóveis e um pouco mais de problemas que preocupam a ordem social, mas todos vêm e quase ninguem faz algo para promover mudanças. Em suma, neste submundo existe uma cultura que os governantes não controlam porque fazem parte dela. É um submundo com leis próprias, ordem típica e uma cultura que só ali faz sentido. É a isto que chamei de efeito calçadão que surge pela exteriorização da cultura do deixa-andar impregnada naqueles que têm a tarefa de pôr ordem onde ela parece ausente.
Frequentam aquele local gente de quase todas as faixas etárias e de ambos os sexos; cidadãos de diferentes estratos sociais; diferentes grupos étnicos, cores partidárias, etc. No calçadão cruzam-se patrões e empregadas domésticas; chefes e subordinados; vizinhos, e varias outras díades.
Numa observação minuciosa pode-se perceber que cada categoria social que frequenta o local tem interesses distintos. Uns vão simplesmente para contemplar o ambiente e a festa do momento; os outros vão para se exibirem de qualquer coisa que tenham como trunfo na manga; alguns vão para se embriagar da cerveja que por lá abunda, e os outros ainda vão com o intuito de produzir receitas para o seu auto-sustento.
Jovens de tronco nu exibem no calcadão os músculos fabricados pela fisicultura praticada nos ginasiuns da praça; os patricinhos exibem descaradamente viaturas luxuosas aproveitando-se da ocasião para porem o som da música ao volume mais alto possivel como forma de mostrar que são os eleitos da terra. As raparigas não se fazem para trás. De roupas sensuais e noutros casos quase semi-nuas exibem tudo o que têm de bom e de melhor tornando-se desfrutáveis depois do txiling.
Os outros aproveitam o momento para vender a sua mercadoria; desde a magumba e o frango grelhados com xima, batata frita e salada, o álcool, estupefacientes; e as mais desinibidas não perdem a ocasião para se prostituirem. O que têm em comum é o sentido oportunista que lhes leva a tirarem proveito do momento para produzirem receitas para o auto-sustento.
Alguns dos que vão em busca da embriaguês chegam a passar cerca de dois dias seguidos sem se quer regressarem a casa; pois as condições lhes são favoraveis. Comem e bebem; quando cansados dormem no interior do seu Nissan Patrol ou Jeep Cherokee; quando necessitam de banho mergulham nas águas sujas da Baia de Maputo; quando sentem necessidades fisiologicas não se importam do urinorio e fecalismo a ceu aberto, e assim em diante.
As regras não são muito bem claras no calcadão. Cada um estaciona a sua viatura onde e como bem lhe apetecer; nem que para isso os outros vejam o seu acesso à estrada bloqueado por outra viatura. Quando isso acontece em outros locais da cidade de Maputo, a policia camarária não perde a oportunidade para rebocar e multar a viatura mal estacionada. Em contrapartida no calçadão nenhuma viatura é rebocada por mau estacionamento. Nenhum automobilista é sancionado por condução em estado de embriagues embora haja no local um desfile de agentes da PRM e da polícia camarária. Os primeiros fazem um autêntico desfile exibicionista, numa tentativa de demonstração de forças. Munidos de coletes a prova de balas, empunhando armas do tipo AK 47 e com um olhar rude, os agentes da PRM circulam em viaturas típicas tentando convencer aos seus espectadores que estão a patrulhar a área em prol da ordem e tranquilidade públicas.
Como deixei transparecer antes, no calçadão não há sanitários públicos, não há latas de lixo todavia é um dos locais que mais resíduos sólidos produz e mais se urina em locais impróprios devido o efeito do álcool.
Sufocados pelas necessidades fisiológicas, rapazes e raparigas disputam o espaço que separa a viatura estacionada do capim ou muro para se livrarem dos seus excrementos. Não há pudor naquele local, quer entre os homens quer entre as mulheres, pois as condições existentes assim o favorecem.
O calçadão tem uma mensagem muito interessante. Esse espaço transmite a essência da mocambicanidade que se esconde por detrás dos fatos e gravatas dos dirigentes deste pais.
As barracas que pululam no local operam sob o licenciamento das autoridades municipais tanto quanto governamentais – Ministério da Indústria e Comércio. Tais autoridades têm a noção da falta de sanitários públicos nos locais onde elas operam, no entanto pouco ou nada mesmo é feito de modo a reverter-se o cenário.
A condução em estado de embriagues é penalizada em outros locais de Moçambique com a excepção do calcadão. Só um azarado é que pode ser penalizado, no sítio, por conduzir sob efeitos do álcool. O estacionamento desordenado não implica nenhum sancionamento por parte das autoridades municipais e/ou governamentais naquele local embora elas tenham o conhecimento do caos que ali se vive.
Os activistas das instituições que trabalham no combate ao HIV/SIDA têm conhecimento do comportamentos de risco que se vive no calçadão o que pode aumentar os índices de infecção por esta pandemia, mas ninguém toma alguma medida para controlar o cenário.
No calçadão há roubo de telemóveis e um pouco mais de problemas que preocupam a ordem social, mas todos vêm e quase ninguem faz algo para promover mudanças. Em suma, neste submundo existe uma cultura que os governantes não controlam porque fazem parte dela. É um submundo com leis próprias, ordem típica e uma cultura que só ali faz sentido. É a isto que chamei de efeito calçadão que surge pela exteriorização da cultura do deixa-andar impregnada naqueles que têm a tarefa de pôr ordem onde ela parece ausente.