O desenvolvimento de Moçambique é o objectivo e sonho de qualquer cidadão sensato que tem algum orgulho pela sua pátria. Este é um dos motivos que leva a quase todos os cidadãos comprometidos com os destinos do país, a encontrarem dentre as várias teorias de desenvolvimento, as que melhor se ajustam a nossa realidade.
Já esteve na moda a teoria das aldeias comunais, e das cooperativas de consumo, como uma estratégia para levar o país rumo ao desenvolvimento almejado; já esteve também na moda e pelos vistos até mesmo agora, o ajustamento estrutural, e talvez outras que não estão ao nosso alcance.
A primeira moda escolhida para o desenvolvimento do Moçambique independente, sucumbiu, causando a falência de várias empresas estatais, e desembocando naquilo que os economistas chamam de maior procura e menor oferta. Por outras palavras as pessoas tinham mais dinheiro do que os produtos existentes no mercado local. Neste caso há que indagar: de que vale tanto dinheiro quando não há como usá-lo? A moeda nacional tinha um peso significativo face ao dólar, apesar da fraqueza da nossa economia, algo veemente deplorado pelos economistas.
Quem não se lembra das enormes bichas para a compra de carne de vaca, no talho. Quem não se lembra quando durante a bicha as pedras ou sacos velhos substituíam ao vizinho que ia comprar o sumo Loumar para completar o rancho para o Natal?
Há quem diga que com o regresso à casa, dos nossos irmãos hoje apelidados de madjermanes, muita coisa mudou. Começamos a ver filmes de Jack Chan (não sei se é assim que se escreve) e do mestre Shao-Lin. Começamos igualmente a desfrutar de aparelhagens sonoras de marca RFT, que abafavam o tradicional Chirico Festa. Os congeladores vieram à casa, os fogões, e muitos outros electrodomésticos em falta no mercado local começaram a aparecer e ao mesmo tempo a despertar um novo modus vivendi entre os moçambicanos.
A segunda moda acima mencionada, também trouxe os seus podres. O ajustamento estrutural, implicava muitas privatizações, e acima de tudo estimulava a economia de mercado. A consequência disso tudo foram os despedimentos maciços em muitas empresas. Muitos trabalhadores ficaram desempregados. Se no quadro do pessoal de uma empresa estatal do tempo de Samora precisava-se de um pintor e um jardineiro, o privado na gestão das empresas orientadas pela nova moda, não precisava de um trabalhador que labutava apenas uma vez por semestre ou por ano; passando o resto dos dias jogando ntchuva e o baralho no posto de serviço. Era tecnicamente interpretado como um desperdício de recursos. Para o trabalho de jardinagem e pintura, basta contratar à alguém na hora certa e no momento certo de modo a evitar desperdícios nos salários mensais.
Como se pode ver, as principais vítimas do ajustamento estrutural, foram as camadas mais desfavorecidas do país, o que de certa forma perpetuou a hipótese segundo a qual os mais ricos tornavam-se cada vez ricos, enquanto que por outro lado os mais pobres tornavam-se cada vez pobres.
De modo a evitar longas demoras no processo de privatizações, e cumprir-se com os prazos estabelecidos pelo Banco Mundial e o FMI, muitos processos foram seguidos de forma informal, beneficiando a elite no poder. Desta feita, muitas empresas estatais alienadas foram parar nas mãos de uma elite constituída pelas grandes figuras políticas do partido no poder, segundo refere Joseph Hanlon(2002), autor de Are donors to Mozambique promoting corruption? Este último elemento agravou a cultura da corrupção no país, o crime organizado, e acima de tudo o gangstarismo, que até hoje é uma inimigo difícil de combater.
Apresentamos as falhas das modas de desenvolvimento escolhidas para nortearem o sucesso de Moçambique. As suas falhas podem ter várias explicações que neste momento não estaríamos em condições de encontrá-las na totalidade. A mais próxima explicação que encontramos, pode ser o não ajustamento entre a moda e a realidade do país.
Na abertura do ano lectivo na Universidade Eduardo Mondlane, uma das grandes figuras do actual Governo, afirmou peremptoriamente que para o desenvolvimento do país a UEM deve apostar nos cursos que estimulem o desenvolvimento do país. Com efeito enumerou algumas áreas como a Agricultura, Indústria, Infra-estruturas públicas, entre outras. Lamentou deste modo que cerca de 60% dos cursos na UEM estarem virados para as Ciências Sociais e Humanas. No nosso ver o membro do governo levantou um falso problema.
O que se pretendia dizer nas palavras do referido quadro do Governo, é que ao invés de se equilibrarem as prioridades tanto para as ciências sociais como para as ciências nomotéticas, deviam dar maior vantagem à estas últimas em detrimento das primeiras. Este é um pensamento vulgar e que os cientistas sociais chamam de senso comum. Será esta, a nova moda de desenvolvimento escolhida pelo novo Governo? Oxalá que não.
Falamos de senso comum, porque não é frequente que um grande académico ou mesmo intelectual pense da maneira supracitada. Quem pensa nesses moldes é o cidadão pacato e desenformado.
Numa entrevista que a Taboo, um dos membro do grupo americano de hip hop – Black Eyed Peas – concedeu a revista BRAVO, dizia ela que se pudesse governar o mundo mandava todos os políticos para o inferno. Segundo ela, os políticos fazem demasiadas asneiras e ninguém os pode deter. Acrescenta ela que o seu lema seria: pessoas inteligentes ao poder.
O problema do desenvolvimento deve ser equacionado doutra forma. Talvez seria prudente começar a questionar porquê é que os cursos virados para as ciências sociais são os mais procurados pelos candidatos ao ensino superior, comparativamente às ciências exactas. Parece que as coisas vêm de longe. Ora vejamos;
No ensino geral as ciências exactas são leccionadas na base de quadro e giz, o que não devia ser. As ciências experimentais são melhor compreendidas quando demonstradas aos alunos à partir do laboratório, e das aulas práticas no campo de estudo mais apropriado. Não é fácil limitar uma aula sobre a propagação das ondas no vácuo; reacção para a obtenção do trinitro-tolueno; a fotosintese nas plantas; limitados na base de quadro e giz. As formações do Precambrico Superior e do Fanerozoico, que dão origem ao aparato geológico do nosso país só podem ser bem compreendidas com a ajuda de algumas viagens escolares nas aulas de geografia. Talvez seja este o motivo que tem contribuído o fraco aproveitamento pedagógico dos alunos nas ciências exactas. E como consequência procuram enveredar por aquilo que acham compreender com maior facilidade.
O problema da maior aderência às Ciências Sociais, não deve ser resolvido somente pela UEM; esta é acima de tudo a grande responsabilidade do Ministério da Educação e Cultura.
Muitos países desenvolvidos, descobriram desde muito cedo que a interdisciplinaridade é um focal point para o avanço de qualquer economia. Por exemplo, o exército norte americano procura sempre manter nos seus esquadrões uma equipe multidisciplinar, isto é, composta por biólogos, antropólogos, engenheiros químicos, físicos, electrotécnicos, geólogos, médicos, sociólogos, geógrafos, etc. De tal maneiras que consigam se precaver de qualquer eventualidade. Nessas equipas multidisciplinares, conseguem solucionar a maior parte dos problemas que lhes vêm pela frente.
É um erro crasso pensar que a Indústria de papel higiénico não precise de um antropólogo no seu quadro de pessoal, devendo para isso recrutar apenas os engenheiros químicos, e de construção civil. Antes de se instalarem na Ilha de Moçambique por exemplo, o antropólogo pode-lhes mostrar que seria um empreendimento sem muitas probabilidades de trazer retornos; uma vez que os costumes locais não pautam pelo uso maciço do papel higiénico na WC.
O mesmo diria em relação à qualquer indústria ou fábrica como a CDM, a Coca Cola, entre outras.
Muitas vezes quem faz o trabalho prático não é propriamente o engenheiro. No regadio que mantém o canavial de Xinavane por exemplo, não foram os engenheiros quem pegaram em chaves francesas e juntas para montarem toda a rede de tubagem galvanizada. O trabalho prático foi feito pelo pessoal técnico capacitado para o efeito; pessoal esse que poderíamos enquadrar talvez no grupo dos operários. Na maior parte das vezes os engenheiros (que são uma minoria) idealizam e orientam o trabalho, razão pela qual podemos ter uma visão errada se pensarmos que o país tem déficet de engenheiros. O pessoal que põe em prática o projecto idealizado pelos engenheiros é composto por uma maioria que compõe o grosso dos cidadãos moçambicanos.
Muitos técnicos encontram-se deslocados das suas áreas de especialização. Até os indivíduos formados pela Universidade Pedagógica não querem dar aulas, preferindo trabalhos burocráticos para não falar de escritório. Não gostaria de citar casos de agrónomos formados pela UEM que se encontram empregados nos balcões do Banco amarelo.
O que falta no nosso país são os incentivos. Tanto para os que estão ainda a ser formados no ensino geral, como para os recém formados pelas instituições do ensino superior. Estes últimos não são deslocados das suas áreas de especialização, por uma questão de promoção da interdisciplinaridade, antes sim, pela oferta salarial promissora comparativamente a sua área de formação. É neste ponto em que o Governo deve começar a reflectir, ao invés de propalar discursos baratos em pleno meio académico.
Antes de apontarmos a sujeira da casa do vizinho, devemo-nos certificar se não temos sujeira na nossa casa. Senão começamos a inventar explicações que não existem para justificarmos a nossa pobreza moral, e incompetência acima de tudo. É nessa lógica que quando o macaco não sabe dançar diz que o chão está torto.
Já esteve na moda a teoria das aldeias comunais, e das cooperativas de consumo, como uma estratégia para levar o país rumo ao desenvolvimento almejado; já esteve também na moda e pelos vistos até mesmo agora, o ajustamento estrutural, e talvez outras que não estão ao nosso alcance.
A primeira moda escolhida para o desenvolvimento do Moçambique independente, sucumbiu, causando a falência de várias empresas estatais, e desembocando naquilo que os economistas chamam de maior procura e menor oferta. Por outras palavras as pessoas tinham mais dinheiro do que os produtos existentes no mercado local. Neste caso há que indagar: de que vale tanto dinheiro quando não há como usá-lo? A moeda nacional tinha um peso significativo face ao dólar, apesar da fraqueza da nossa economia, algo veemente deplorado pelos economistas.
Quem não se lembra das enormes bichas para a compra de carne de vaca, no talho. Quem não se lembra quando durante a bicha as pedras ou sacos velhos substituíam ao vizinho que ia comprar o sumo Loumar para completar o rancho para o Natal?
Há quem diga que com o regresso à casa, dos nossos irmãos hoje apelidados de madjermanes, muita coisa mudou. Começamos a ver filmes de Jack Chan (não sei se é assim que se escreve) e do mestre Shao-Lin. Começamos igualmente a desfrutar de aparelhagens sonoras de marca RFT, que abafavam o tradicional Chirico Festa. Os congeladores vieram à casa, os fogões, e muitos outros electrodomésticos em falta no mercado local começaram a aparecer e ao mesmo tempo a despertar um novo modus vivendi entre os moçambicanos.
A segunda moda acima mencionada, também trouxe os seus podres. O ajustamento estrutural, implicava muitas privatizações, e acima de tudo estimulava a economia de mercado. A consequência disso tudo foram os despedimentos maciços em muitas empresas. Muitos trabalhadores ficaram desempregados. Se no quadro do pessoal de uma empresa estatal do tempo de Samora precisava-se de um pintor e um jardineiro, o privado na gestão das empresas orientadas pela nova moda, não precisava de um trabalhador que labutava apenas uma vez por semestre ou por ano; passando o resto dos dias jogando ntchuva e o baralho no posto de serviço. Era tecnicamente interpretado como um desperdício de recursos. Para o trabalho de jardinagem e pintura, basta contratar à alguém na hora certa e no momento certo de modo a evitar desperdícios nos salários mensais.
Como se pode ver, as principais vítimas do ajustamento estrutural, foram as camadas mais desfavorecidas do país, o que de certa forma perpetuou a hipótese segundo a qual os mais ricos tornavam-se cada vez ricos, enquanto que por outro lado os mais pobres tornavam-se cada vez pobres.
De modo a evitar longas demoras no processo de privatizações, e cumprir-se com os prazos estabelecidos pelo Banco Mundial e o FMI, muitos processos foram seguidos de forma informal, beneficiando a elite no poder. Desta feita, muitas empresas estatais alienadas foram parar nas mãos de uma elite constituída pelas grandes figuras políticas do partido no poder, segundo refere Joseph Hanlon(2002), autor de Are donors to Mozambique promoting corruption? Este último elemento agravou a cultura da corrupção no país, o crime organizado, e acima de tudo o gangstarismo, que até hoje é uma inimigo difícil de combater.
Apresentamos as falhas das modas de desenvolvimento escolhidas para nortearem o sucesso de Moçambique. As suas falhas podem ter várias explicações que neste momento não estaríamos em condições de encontrá-las na totalidade. A mais próxima explicação que encontramos, pode ser o não ajustamento entre a moda e a realidade do país.
Na abertura do ano lectivo na Universidade Eduardo Mondlane, uma das grandes figuras do actual Governo, afirmou peremptoriamente que para o desenvolvimento do país a UEM deve apostar nos cursos que estimulem o desenvolvimento do país. Com efeito enumerou algumas áreas como a Agricultura, Indústria, Infra-estruturas públicas, entre outras. Lamentou deste modo que cerca de 60% dos cursos na UEM estarem virados para as Ciências Sociais e Humanas. No nosso ver o membro do governo levantou um falso problema.
O que se pretendia dizer nas palavras do referido quadro do Governo, é que ao invés de se equilibrarem as prioridades tanto para as ciências sociais como para as ciências nomotéticas, deviam dar maior vantagem à estas últimas em detrimento das primeiras. Este é um pensamento vulgar e que os cientistas sociais chamam de senso comum. Será esta, a nova moda de desenvolvimento escolhida pelo novo Governo? Oxalá que não.
Falamos de senso comum, porque não é frequente que um grande académico ou mesmo intelectual pense da maneira supracitada. Quem pensa nesses moldes é o cidadão pacato e desenformado.
Numa entrevista que a Taboo, um dos membro do grupo americano de hip hop – Black Eyed Peas – concedeu a revista BRAVO, dizia ela que se pudesse governar o mundo mandava todos os políticos para o inferno. Segundo ela, os políticos fazem demasiadas asneiras e ninguém os pode deter. Acrescenta ela que o seu lema seria: pessoas inteligentes ao poder.
O problema do desenvolvimento deve ser equacionado doutra forma. Talvez seria prudente começar a questionar porquê é que os cursos virados para as ciências sociais são os mais procurados pelos candidatos ao ensino superior, comparativamente às ciências exactas. Parece que as coisas vêm de longe. Ora vejamos;
No ensino geral as ciências exactas são leccionadas na base de quadro e giz, o que não devia ser. As ciências experimentais são melhor compreendidas quando demonstradas aos alunos à partir do laboratório, e das aulas práticas no campo de estudo mais apropriado. Não é fácil limitar uma aula sobre a propagação das ondas no vácuo; reacção para a obtenção do trinitro-tolueno; a fotosintese nas plantas; limitados na base de quadro e giz. As formações do Precambrico Superior e do Fanerozoico, que dão origem ao aparato geológico do nosso país só podem ser bem compreendidas com a ajuda de algumas viagens escolares nas aulas de geografia. Talvez seja este o motivo que tem contribuído o fraco aproveitamento pedagógico dos alunos nas ciências exactas. E como consequência procuram enveredar por aquilo que acham compreender com maior facilidade.
O problema da maior aderência às Ciências Sociais, não deve ser resolvido somente pela UEM; esta é acima de tudo a grande responsabilidade do Ministério da Educação e Cultura.
Muitos países desenvolvidos, descobriram desde muito cedo que a interdisciplinaridade é um focal point para o avanço de qualquer economia. Por exemplo, o exército norte americano procura sempre manter nos seus esquadrões uma equipe multidisciplinar, isto é, composta por biólogos, antropólogos, engenheiros químicos, físicos, electrotécnicos, geólogos, médicos, sociólogos, geógrafos, etc. De tal maneiras que consigam se precaver de qualquer eventualidade. Nessas equipas multidisciplinares, conseguem solucionar a maior parte dos problemas que lhes vêm pela frente.
É um erro crasso pensar que a Indústria de papel higiénico não precise de um antropólogo no seu quadro de pessoal, devendo para isso recrutar apenas os engenheiros químicos, e de construção civil. Antes de se instalarem na Ilha de Moçambique por exemplo, o antropólogo pode-lhes mostrar que seria um empreendimento sem muitas probabilidades de trazer retornos; uma vez que os costumes locais não pautam pelo uso maciço do papel higiénico na WC.
O mesmo diria em relação à qualquer indústria ou fábrica como a CDM, a Coca Cola, entre outras.
Muitas vezes quem faz o trabalho prático não é propriamente o engenheiro. No regadio que mantém o canavial de Xinavane por exemplo, não foram os engenheiros quem pegaram em chaves francesas e juntas para montarem toda a rede de tubagem galvanizada. O trabalho prático foi feito pelo pessoal técnico capacitado para o efeito; pessoal esse que poderíamos enquadrar talvez no grupo dos operários. Na maior parte das vezes os engenheiros (que são uma minoria) idealizam e orientam o trabalho, razão pela qual podemos ter uma visão errada se pensarmos que o país tem déficet de engenheiros. O pessoal que põe em prática o projecto idealizado pelos engenheiros é composto por uma maioria que compõe o grosso dos cidadãos moçambicanos.
Muitos técnicos encontram-se deslocados das suas áreas de especialização. Até os indivíduos formados pela Universidade Pedagógica não querem dar aulas, preferindo trabalhos burocráticos para não falar de escritório. Não gostaria de citar casos de agrónomos formados pela UEM que se encontram empregados nos balcões do Banco amarelo.
O que falta no nosso país são os incentivos. Tanto para os que estão ainda a ser formados no ensino geral, como para os recém formados pelas instituições do ensino superior. Estes últimos não são deslocados das suas áreas de especialização, por uma questão de promoção da interdisciplinaridade, antes sim, pela oferta salarial promissora comparativamente a sua área de formação. É neste ponto em que o Governo deve começar a reflectir, ao invés de propalar discursos baratos em pleno meio académico.
Antes de apontarmos a sujeira da casa do vizinho, devemo-nos certificar se não temos sujeira na nossa casa. Senão começamos a inventar explicações que não existem para justificarmos a nossa pobreza moral, e incompetência acima de tudo. É nessa lógica que quando o macaco não sabe dançar diz que o chão está torto.