Book Sambo
Carta aberta ao povo brasileiro
Nos últimos 4 anos, o Estado brasileiro tem sido palco de uma
investida atípica levada a cabo pelo sector da justiça, através do
que foi baptizado como “Operação Lava Jato”. Fui ao motor de
buscas Wikipédia para perceber um pouco sobre o significado
desta medida e passo a partilhar os meus achados.
A operação consiste num “conjunto
de investigações em andamento pela Polícia
Federal do Brasil,
que cumpriu mais de mil mandados
de busca e apreensão,
de prisão
temporária, de
prisão
preventiva e de
condução
coercitiva,
visando apurar um esquema de lavagem
de dinheiro que
movimentou bilhões de reais em propina.
A operação teve início em 17 de março de 2014 e conta com 50
fases operacionais,
autorizadas pelo juiz Sérgio
Moro, durante
as quais mais de cem pessoas foram presas e condenadas. Investiga
crimes de corrupção
ativa e
passiva,
gestão
fraudulenta,
lavagem de dinheiro, organização
criminosa,
obstrução
da justiça,
operação
fraudulenta de câmbio
e recebimento
de vantagem indevida”.
O ponto mais alto da Lava Jato foi, se calhar, a privação de
liberdade ao ex-presidente Luís Inácio Lula da Silva que, até
agora, tem dividido a opinião dos brasileiros e do mundo inteiro.
Por um lado, entende-se que a sua prisão é ilegítima pelo facto de
não se terem apresentado provas suficientes que o incriminam. Por
outro, estão os que apoiam a medida tomada pelas autoridades
judiciais independentemente das circunstâncias adoptadas para o
efeito.
Seja como for, o Brasil é uma nação em franco crescimento
económico que apesar de figurar entre os países mais corruptos da
América Latina, faz parte dos BRICS (Brasil, Índia, China, África
do Sul), um grupo que de forma notável está(va) a caminhar a passos
largos rumo ao desenvolvimento. Dentre os vários problemas que o
Brasil enfrenta, figuram a enorme assimetria entre ricos e pobres, o
elevado índice de criminalidade e a degradação moral da sociedade.
Por mais gigantesca que seja a economia de um país, não se pode
falar de um bem-estar social enquanto persistirem tais problemas.
Entre 1980 e 2018, o PIB per capita do Brasil cresceu de USD 1.256
para USD 16.387, sendo o mais alto no seio dos BRICS. Porém, importa
ressalvar que o desenvolvimento económico por si só não é
suficiente para assegurar o bem-estar social dos cidadãos. Para tal,
é imperioso assegurar o Desenvolvimento Humano e Sustentável, que
começa por garantir-se o acesso à educação, à saúde, ao
trabalho (ou fonte de renda lícita), os direitos humanos, a
democracia, boa governação, etc. Sem querer discutir o que vem
primeiro ou por último, quero frisar que a moralização da
sociedade e a boa governação, constituem-se passos importantes para
garantir o Desenvolvimento Humano.
A Operação Lava Jato, pareceu-me uma tentativa bem sucedida para a
restituição dos valores que uma nação precisa para o bem
colectivo, sobretudo no que diz respeito à gestão das finanças
públicas, o respeito pelos contribuintes e desincentivo à todas as
práticas de corrupção. Por esta via, foram criadas condições
para que nenhum indivíduo com mácula escapasse à Justiça. No
entanto, em 2016, a Revista IstoÉ,
denunciou Dilma e Lula por tentativa de obstrução às investigações
levadas a cabo pela Policia Federal. Foi aí que o caldo entornou-se.
Do ponto de vista moral, não há pequena nem grande infração pois,
em ambos casos, os seus agentes são merecedores de sanção
exemplar. Quando se trata de punir com base legal, a coisa
complica-se na junção de provas suficientes para incriminar o
prevaricador. Dependendo de caso para caso, é comum que se destruam
as provas incriminatórias e por lei ninguém deve ser condenado sem
matéria fundada mesmo que todos suspeitem do seu envolvimento no
acto criminoso. Este princípio funciona quer para crimes públicos
bem como particulares, algo para dizer que nem sempre a legalidade é
justa.
A sociologia diz que a sanção é uma forma de garantir o controlo
social ou, por outra, se um transgressor (por mais ínfima que seja a
sua transgressão) não for punido exemplarmente, poderá suscitar
outras transgressões.
Este é um momento ímpar na história do Brasil na medida em que os
cidadãos são chamados a uma reflexão conjunta que ditará o futuro
desta nação. Uma reflexão que começa por se questionar o que se
pretende para as gerações vindouras. Uma reflexão que começa por
aceitar grandes sacrifícios em prol do bem comum.
Em períodos de grandes mudanças sociais, os líderes
revolucionários asseguram para si a necessidade de sacrifícios em
nome da pátria e para o benefício dos concidadãos, daí a
necessidade de mártires e heróis para a sua futura glorificação.
Na ausência de heróis, o bode expiatório pode fazer o seu papel. A
doutrina cristã alega que Cristo morreu inocente (nos crimes que lhe
foram imputados) para salvar a humanidade, expiando-lhe os pecados,
porque assim estava profetizado.
Longe de comparar políticos (e, se calhar também corruptos) à
figura de Cristo, iria terminar afirmando que a Operação Lava Jato,
precisava de um bode expiatório à dimensão do Lula para marcar em
grande a história brasileira.
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